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Os militares birmaneses, que assumiram o controlo de Myanmar (antiga Birmânia) após o golpe de Estado de 1 de fevereiro, ocuparam à força pelo menos seis hospitais, denunciou esta segunda-feira uma organização não-governamental (ONG).
Os soldados invadiram no domingo à noite meia dúzia de hospitais em Rangum, a antiga capital e a cidade mais populosa, e também ocuparam outros centros de saúde nas cidades de Mandalay, Monywa e Taunggyi, disse num comunicado a ONG Médicos para os Direitos Humanos.
A ONG sublinhou que a ocupação de hospitais é uma violação do direito internacional e "apenas serve para minar ainda mais um sistema de saúde já sitiado pela pandemia da covid-19".
Myanmar vive um enorme movimento de desobediência civil que apela ao regresso à democracia, ao respeito pelos resultados das eleições de novembro e à libertação dos políticos eleitos, incluindo a líder deposta, Aung San Suu Kyi.
Os trabalhadores da saúde foram dos primeiros setores a iniciar este movimento de oposição contra os militares.
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"Embora o pessoal médico tenha deixado os seus postos para iniciar o movimento de desobediência civil, muitos voltaram aos hospitais em resposta à escalada da violência contra manifestantes pacíficos", disse uma epidemiologista do Centro de Saúde Pública e Direitos Humanos da Universidade Johns Hopkins, Sandra Mon.
"Este cerco aos hospitais segue-se a vários dias de baixas e ferimentos em civis, significativos, e pode ser interpretado como uma tentativa direta de impedir as pessoas de aceder aos cuidados médicos. É também uma ameaça para os médicos deixarem de tratar os manifestantes feridos", insistiu Mon.
Pelo menos 54 pessoas morreram desde a revolta militar, a maioria baleada pelas forças de segurança, afirmou a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP) na Birmânia.
Espera-se que dezenas de milhares de birmaneses sigam hoje o apelo a uma greve geral em todo o país, em resposta ao golpe, e continuem as manifestações pacíficas que começaram em Myanmar após a revolta.
Os militares detiveram pelo menos 1.790 pessoas, incluindo 318 já libertadas, de acordo com os números da AAPP, e estão a tentar intimidar a população com ataques noturnos em Rangum, incluindo detenções arbitrárias e espancamento de civis.
A junta militar defendeu a ação das autoridades e a polícia assegurou que "as forças de segurança atuam contra os distúrbios de acordo com a lei" e tentam "minimizar os ferimentos", noticiou o jornal pró-governamental The Global New Light of Myanmar.
O jornal, desde o golpe militar, também publicou uma série de fotografias e textos onde se assinala que os militares colaboram em tarefas médicas em vários hospitais do país.
O exército justificou a tomada do poder com uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro, em que os observadores internacionais não detetaram qualquer manipulação e em que a Liga Nacional para a Democracia, o partido liderado por Suu Kyi, venceu com ampla vantagem, tal como já tinha sucedido em 2015.