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O ativista Samuel Chu, do grupo Campaign for Hong Kong, considera que o encerramento do jornal independente CitizenNews é uma consequência da ação das autoridades da antiga colónia britânica e de Pequim, que nos últimos meses têm feito "uma cada vez maior e mais abrangente censura online".
"Não estou nada surpreendido [com a decisão de encerramento do CitizenNews]", diz à TSF o ativista radicado nos Estados Unidos, citando a pressão contra os media, e em particular sobre os meios de comunicação em língua chinesa não tradicionais, nomeadamente os que têm uma linha editorial assumidamente pró-democracia, como o CitizenNews, que no domingo anunciou que vai encerrar oficialmente a atividade esta terça-feira.
O CitizenNews tomou a decisão de encerrar, seguindo o exemplo de outras publicações críticas do regime chinês. O primeiro a fechar portas foi o Apple Daily, há sete meses, e o segundo, o Stand News, depois de cerca de cerca de 200 polícias terem feito buscas e detenções a ambos os jornais.
Esta segunda-feira, o antigo redator principal do jornal online, e também ex-presidente da Associação de Jornalistas de Hong Kong, justificou o fim da publicação independente com o atual ambiente político e social na antiga colónia britânica.

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Em declarações à imprensa na antiga colónia britânica, Chris Yeung deixou claro que, ao contrário do que aconteceu com o Stand News e com o Apple Daily, os profissionais do CitizenNews não foram abordados pela polícia de Segurança Nacional. O antigo redator principal do CitizenNews sublinhou, no entanto, que os jornalistas "deixaram de saber quais são os limites legais sob os quais podem exercer a profissão em Hong Kong", e que isso, tal como o aconteceu com o Stand News, contribuiu para a decisão de deixar de publicar notícias no portal do CitizenNews.
Para ilustrar o atual momento vivido em Hong Kong, Samuel Chu destacou à TSF o simbolismo da remoção da estátua "Pilar da Vergonha" do campus da universidade de Hong Kong, no final de dezembro - uma operação realizada por seguranças, longe das câmaras dos jornalistas.
O ativista defende que o facto de a escultura em memória das vítimas de Tiananmen ter estado durante cerca de 25 anos no campus da mais antiga universidade de Hong Kong, sem qualquer problema, e de repente deixar de poder lá estar, ilustra, "o ambiente autoritário e repressivo vivido na cidade", sobretudo desde a entrada em vigor da Lei de Segurança Nacional há ano e meio.
"Não consigo pensar noutro exemplo que mostre como uma sociedade aberta se tornou, de forma tão rápida, numa das cidades mais repressivas e autoritárias. E toda a gente continua a viver lá, não só os residentes de Hong Kong, como as grandes empresas que continuam a agir como se nada tivesse acontecido. Mas as pessoas de Hong Kong que continuam a viver lá sabem que todas as suas liberdades, a liberdade de expressão de que gozavam, e todos os direitos fundamentais que antes tinham, como a capacidade de se expressarem publicamente e de participarem em qualquer forma de discurso público, foram-lhes retiradas", afirma.
Ouça as declarações do ativista Samuel Chu à TSF
O ativista defende também que as empresas e instituições financeiras que fazem negócios com a China devem ser pressionadas a tomar posições sobre as restrições das liberdades em Hong Kong, ou então, serem persuadidas de que correm riscos se forem complacentes com a China.
Samuel Chu acrescenta que o Hong Kong Autonomy Act, que foi aprovado por unanimidade pelas duas Câmaras do Congresso norte-americano, e que levou a Casa Branca a acabar com o estatuto especial que os Estados Unidos concediam a Hong Kong, depois da imposição da lei de Segurança Nacional, dá margem para medidas mais abrangentes.
"O Hong Kong Autonomy Act também refere que é preciso haver uma lista de instituições financeiras que fazem negócios com pessoas que são alvo de sanções por parte do governo norte-americano. Por isso, acho que deve haver um rápido e decisivo acompanhamento, em não apenas ter indivíduos como alvo, mas apertar o cerco a estas corporações e instituições financeiras que estão envolvidas", afirma.
O responsável da Campaign For Hong Kong defende ainda que a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, em fevereiro, é o palco ideal para uma tomada de posição contra as ações do regime chinês, em linha com a decisão dos Estados Unidos de fazer um boicote diplomático à cerimónia de abertura dos Jogos. "É a oportunidade para muitos, em todo o mundo, tomarem uma posição, não só sobre o que está a acontecer em Hong Kong, mas também noutras partes da China", sublinha.
"É a oportunidade de expor as atrocidades que o regime chinês está a cometer perante uma muito maior audiência. E acho que a China importa-se bastante com isso", conclui.
O ativista defende que os Jogos Olímpicos de Inverno são o palco ideal para uma tomada de posição contra as ações do regime chinês