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Sessão da Câmara dos Deputados do Brasil num destes dias.
Os parlamentares reuniram-se para aprovar uma emenda do presidente Bolsonaro que visava poupar 10 mil milhões de reais, perto de 2,5 mil milhões de euros, em benefícios da segurança social.
Como a oposição não levantou problemas, toda a gente estava de acordo e a aprovação da emenda parecia mera formalidade.
Mas não: deputados governistas, estranhamente, é que atrasaram em mais de meia hora a votação.
Em causa, um detalhe na nova ficha de inscrição na segurança social. O registo, segundo a proposta, deveria ter nome, número de contribuinte, data e local de nascimento e... género.
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Eis a fonte dos problemas.
A bancada evangélica, também chamada de Bancada da Bíblia, queria trocar "género" por "sexo".
O deputado Pastor Sargento Isidório, que reúne, como o nome de guerra indica, duas funções em alta na nova política brasileira, é pastor e é sargento, foi dos mais inconformados.
"Género? Deus criou macho e fêmea, homem e mulher, género é cadeira, é mesa, é sapato", disse o Pastor Sargento, que se declara ex-homossexual, e que ficou célebre por pedir uma audiência a Bolsonaro para os dois terem uma conversa de doido para doido.
A oposição foi à loucura. "Isto é a idade das trevas", disse uma deputada.
"Estamos há meia hora a discutir o sexo dos anjos", acrescentou outro, impaciente.
"De facto, cadeira não é sexo, nunca vi cadeira trepando [ou seja, tendo relações sexuais]", continuou mais um, sem saber se ria ou se chorava.
No fim, o governo pediu ao Pastor Sargento e à bancada evangélica em geral para esquecerem por ora a grave questão da troca de "sexo" por "género" porque poupar dinheiro é prioritário.
Mas com a promessa de que mais tarde, talvez numa conversa de doido para doido, Bolsonaro alteraria a denominação para satisfazer os religiosos radicais.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.