Novo editor do blogue Nexta teme que Protasevich não resista

Tadeusz Giczan, que ocupou o cargo depois de Protasevich se ter mudado para a Lituânia, teme pela vida do amigo. Em entrevista à TSF, Giczan diz que quem desvia um avião é capaz de tudo.

O jornalista bielorrusso, exilado na Polónia, admite que todos ficaram espantados com a forma como Protasevich foi detido. Ao desviar um avião de passageiros o presidente Lukashenko mostrou o quanto queria pôr as mãos naquele que é considerado o seu inimigo número um.

Os dissidentes admitiam uma operação terrestre para raptar ou mesmo matar Roman Protasevich, mas sequestrar um avião civil em plena Europa nunca lhes passou pela cabeça. Tadeusz Giczan admite que só pode imaginar o que o amigo está a passar "estou com muito medo que alguma coisa muito má lhe aconteça".

Ele conhece bem a personalidade de Roman e confessa que nem o via como alguém que pudesse liderar uma revolução. "Ele é muito amigável, tem um espírito aberto e é conversador. Não é um revolucionário típico que passa 10 anos escondido na floresta ou algo do género. Ele gosta da vida, é realmente uma boa pessoa. Até foi esquisito para mim ver que ocupava um lugar tão importante no movimento da resistência. É muito triste o que lhe está a acontecer. Acho que eventualmente ele vai quebrar e dizer-lhes tudo o que sabe".

Isso até pode ter acontecido mais depressa do que Tadeusz pensava. Ontem a televisão oficial bielorrussa emitiu uma "entrevista" em que Roman Protasevich diz que estava errado, elogia o presidente Lukashenko e admite que o tentou derrubar. No final o jornalista perde o controlo, chora e diz que só espera um dia ter uma vida normal. Imagens que os pais, já disseram, terem sido muito dolorosas de ver.

Diversos ativistas da oposição viram e analisaram a "entrevista" e dizem não ter dúvidas de que ele foi maltratado, basta ver as feridas que tem nos pulsos, provavelmente provocadas por algemas.

No dia em que foi detido, a bordo de um avião desviado para Minsk, Roman estava com a namorada Sofia Sapega, uma cidadão russa. Ela foi também detida e já foi acusada de dirigir um canal na aplicação Telegram que revela a identidade de elementos da segurança do estado. Na entrevista à TSF Tadeusz Giczan garante que isso não é verdade porque ele conhece o verdadeiro responsável.

Ele defende que Sofia só foi presa por estar com quem estava: "Ela é a namorada do Roman e foi presa especificamente para exercerem pressão extra sobre ele porque de outra forma ele não teria colaborado com o KGB. É como raptar os seus filhos, a sua mulher, é a mesma lógica."

Depois da detenção de Protasevich os outros jornalistas e ativistas, que estão no estrangeiro, temem o que lhes possa acontecer. Ainda esta semana os que estão na Polónia foram avisados pela guarda fronteiriça polaca que viu o KGB bielorrusso entregar fotografias, nomes e moradas a elementos da extrema direita.

Tadeusz admite que não há muitas escapatórias: "A única coisa que posso e vou fazer é mudar de casa e manter o meu endereço secreto. Neste momento várias pessoas sabem onde moro e não quero esse dado seja publico. Para além disso pouco mais posso fazer, se eles realmente nos quiserem matar ou raptar ainda somos alvos fáceis. Não temos qualquer tipo de proteção especial."

O editor do blogue Nexta garante que a Bielorrússia vive talvez o momento mais difícil desde a segunda guerra mundial. O nível de violência e repressão é difícil de imaginar. "A Bielorrússia transformou-se numa ditadura militar. A polícia e o exército estão em todo o lado. Uma pessoa pode ser presa por qualquer coisa. Se a virem a usar o telefone ou a subscrever alguns canais da oposição será detida. Não sei se este grau de repressão tem equivalente na Europa desde a queda do comunismo. É inacreditável. É óbvio que as pessoas estão com medo. O protesto não morreu mas as pessoas têm receio de o mostrar publicamente porque as consequências são terríveis. Pode perder-se tudo. As pessoas estão com medo e isso é completamente compreensível."

Tadeusz Giczan admite que a situação do país é complexa e difícil de resolver. O jornalista gostava de ver o ocidente aplicar sanções mais duras mas admite que a Rússia terá de estar envolvida.

"Até agora o ocidente limitou-se a aplicar sanções que envolvem as companhias e o espaço aéreo bielorrusso. O Lukanshenko tem boas relações com Putin e a Rússia apoia-o financeiramente. Sem o envolvimento da Rússia nada pode ser feito mas se as sanções forem suficientemente pesadas o apoio a Minsk pode tornar-se pesado demais para Moscovo. Não há boas soluções, neste momento todo o ocidente está a discutir soluções. Não é fácil", confessa.

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