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"A ponte de Londres caiu." Foi com estas palavras que a notícia da morte da rainha foi dada ao primeiro-ministro britânico e a algumas figuras-chave da Grã-Bretanha e Commonwealth.
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As expressões-chave foram criadas para evitar que os funcionários do Palácio de Buckingham soubessem a notícia antes de esta ser tornada pública. "Operação Tay Bridge" foi utilizada no dia da morte da rainha-mãe, em 2002. Em 2017 foi escolhida a expressão "Operação 4.ª ponte" para o dia em que fosse necessário divulgar a morte do duque de Edimburgo, marido da rainha, o que acabou por acontecer a 9 de abril de 2021. A "Operação Menai Bridge" foi criada para Carlos.
Durante mais de seis décadas de reinado Isabel II viu passarem 7 papas pelo Vaticano, serem eleitos 15 presidentes norte-americanos e dez chefes de estado da União soviética e Rússia. Quatro dos cinco últimos primeiros-ministros britânicos nasceram já depois da coroação da rainha. Na Grã-Bretanha são milhões os que nunca conheceram outro monarca e por isso a notícia abalou o país.

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Durante 12 dias os diversos países vão parar, primeiro para o luto, depois o funeral. Há ainda que contar com a coroação do próximo monarca. Mal Isabel morreu, o príncipe Carlos passou a ser Rei e os irmãos foram os primeiros a reconhecer a mudança beijando-lhe as mãos. Tanto o dia do funeral como da coroação vão ser feriados nacionais.
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Previsões feitas por vários jornais britânicos, e que agora é preciso confirmarem-se, falam no fecho da bolsa e dos bancos. O caos fará o país perder milhões de libras. Há ainda que contar com os custos de todas as cerimónias.
O que vai acontecer é um acontecimento diferente de tudo o que a Grã-Bretanha viu desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Por exemplo, a BBC cancelou os programas de comédia e há muito que os principais pivots da rádio e televisão preparavam o anúncio da morte da monarca. As bandeiras em todos os edifícios públicos estão a ser colocadas a meia haste. Isso acontece não apenas no Reino Unido, mas em toda a Commonwealth. A maioria dos funcionários do palácio de Buckingham e das instituições a ele ligadas foram mandados para casa.
Em 2014, a Associação Nacional de Oficiais Cívicos distribuiu protocolos para serem seguidos pelas autoridades locais em caso de "morte de uma figura nacional de topo". Uma das recomendações é a de armazenar livros de condolências com folhas soltas, para que as mensagens inapropriadas possam ser removidas. Os livros serão colocados nas câmaras municipais, bibliotecas e museus. Em todas as cidades serão colocados ecrãs gigantes para que as pessoas possam acompanhar as cerimónias fúnebres. É esperado que o novo monarca faça uma declaração pública algumas horas depois da morte da mãe.
No dia D+1, ou seja amanhã, haverá um Conselho de sucessão no Palácio de St. James para declarar formalmente o sucessor. A proclamação está marcada para as 11 da manhã e começará o reinado do Rei Carlos III. O Conselho de sucessão é composto pelos Conselheiros Privados da família Real, por lordes, pelo presidente da câmara de Londres e Altos Comissários de vários países da Commonwealth.
Tudo foi preparado ao pormenor já que até ao século XX as cerimónias oficiais na Grã-Bretanha eram marcadas pelo caos. No funeral da princesa Charlotte, em 1817, os agentes funerários estavam bêbados. Dez anos depois, a Capela de São Jorge estava tão fria durante o enterro do Duque de York que George Canning, o secretário de Relações Exteriores, ficou com febre reumática e o bispo de Londres morreu. A coroação de Victoria, alguns anos depois, não ficou na memória pela organização. O padre perdeu-se nas palavras, o coro foi horrível e os joalheiros reais enganaram-se no dedo em que seria usado o anel da coroação.
Desta vez haverá pouco espaço para improvisações. O corpo da rainha vai ser velado na sala do trono do Palácio de Buckingham e depois no Westminster Hall. Haverá uma cerimónia curta para marcar a chegada do caixão e o público será autorizado a entrar para prestar homenagem à rainha. São esperadas 500 mil pessoas. Quanto aos outros procedimentos são uma incógnita já que a última morte de um rei britânico foi em 1952 e o que foi feito na altura poderá não se aplicar agora.
Certo, certo, é que o hino vai ter uma nova letra já que o sucessor é um homem. Em vez de "God save the queen" passará a ser "God save the king". Os capacetes dos polícias vão todos mudar já que têm as insígnias da rainha e têm de mudar para o futuro rei. As notas e moedas vão também sofrer alterações para passarem a ter a cara do novo monarca.