Negócios de portugueses saqueados e incendiados na África do Sul. Pelo menos 45 mortos

Na cidade portuária de Durban a situação é descrita como sendo "caótica", havendo relatos de saques a grandes armazéns de distribuição em Rivehorse Valley nas últimas vinte e quatro horas. Em declarações à TSF, a secretária de Estado das Comunidades pede calma.

Pelo menos 45 pessoas morreram e 757 foram detidas nos distúrbios violentos que continuam pelo sexto dia consecutivo na África do Sul, depois da prisão do antigo chefe de Estado e ex-líder do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), Jacob Zuma. A secretária de Estado das Comunidades dá conta de alguns negócios portugueses já saqueados e pede calma a quem está nas zonas de maior risco.

"Um apelo à calma e à precaução no sentido de que ainda continuam alguns distúrbios. O que dissemos à comunidade é que evitem sair de casa, evitem os locais onde existem estes distúrbios, na província de KwaZulu e Gauteng, na zona de Joanesburgo mas nos bairros mais pobres, onde temos já conhecimento de que há três situações de comércios de portugueses que foram saqueados. Não temos informação de qualquer fatalidade na comunidade portuguesa e, por isso, estamos a apelar para terem o máximo de precaução, seguindo as notícias e orientações das autoridades locais", explicou à TSF Berta Nunes.

A secretária de Estado das Comunidades conta que já houve algumas manifestações de receio, mas garante que muito em breve vão haver meios de contacto mais rápidos com os representantes de Portugal na África do Sul.

"O nosso embaixador ainda hoje está já a distribuir uma carta e uma mensagem à comunidade com os números de telefone que podem ser utilizados se for necessário pedir algum tipo de ajuda. O gabinete de emergência consular aqui em Portugal tem um endereço de e-mail e um número de telefone que está no portal das comunidades e também um número de telefone de emergência do próprio consulado de Joanesburgo. Têm tido alguns contactos de pessoas preocupadas, aflitas e com medo, o que é normal", acrescentou a secretária de Estado das Comunidades.

O presidente da Federação das Associações Portuguesas na África do Sul, Alexandre Santos, confirma que há mesmo estabelecimentos comerciais de portugueses saqueados. São nove, no total. Alguns foram mesmo incendiados.

"Tenho conhecimento de que, até agora, houve pelo menos seis supermercados de compatriotas nossos saqueados, nas áreas do Soweto, Alexandra e outros bairros periurbanos onde habitam negros sul africanos", explicou à TSF Alexandre Santos.

O responsável fala de uma situação muito complicada.

"É preocupante na medida em que realmente está a verificar-se um descontrolo por completo e quando digo descontrolo não sou eu que o afirmo, é o próprio governador da província de Gauteng que ainda há pouco afirmou que, de facto, a situação é de descontrolo total. Isto apesar de o Presidente ter anunciado, ontem à noite, que tinha ordenado a intervenção das Forças Armadas. Até agora ainda não são visíveis quaisquer resultados sobre a possível intervenção das Forças Armadas na tentativa de controlar a situação", acrescentou o presidente da Federação das Associações Portuguesas na África do Sul.

O governador da província do KwaZulu-Natal, Sihle Zikala, disse esta terça-feira que as autoridades locais contabilizaram até ao momento 26 mortos em resultado da violência e pilhagens naquela região do litoral do país, vizinha de Moçambique.

Zikalala, que é político do ANC, adiantou que 187 pessoas foram detidas na província. Na cidade portuária de Durban, onde grupos de residentes se armaram com armas de fogo para proteger comunidades, casas e negócios, a situação é descrita como sendo "caótica" havendo relatos de saques a grandes armazéns de distribuição em Rivehorse Valley nas últimas vinte e quatro horas apesar da presença da tropa sul-africana, destacada na segunda-feira.

O Governo destacou 2500 soldados para apoiar a polícia a conter os distúrbios no KwaZulu-Natal e em Gauteng, motor da economia do país.

Em Gauteng, o número de vítimas mortais aumentou para pelo menos 10 nas últimas 24 horas, segundo a Polícia sul-africana.

Pelo menos 757 foram detidas pela Polícia, sendo que 304 pessoas no KwaZulu-Natal e 453 pessoas em Gauteng, segundo as autoridades sul-africanas.

Desde sábado que a província de Gauteng está a ser também fustigada por bloqueios de estradas, saques a vários centros comerciais, vandalismo e incêndio de viaturas privadas e camiões de transporte de mercadorias, que continuam na manhã de hoje, relatou a imprensa local.

"Esta manhã, a situação parece calma aqui na minha área de Edenvale também devido à falta de transportes, mas houve tiroteio toda a noite em Alexandra que se ouvia em Linksfield", relatou à Lusa um residente português que solicitou o anonimato.

Pelo menos seis grandes superfícies e uma loja de venda de álcool de empresários portugueses foram saqueadas por completo em várias áreas de Joanesburgo, disse um comerciante português à Lusa.

O Presidente Cyril Ramaphosa, que é também presidente do ANC, o partido no poder na África do Sul desde 1994, disse numa comunicação ao país, na noite de segunda-feira, que "ações serão tomadas contra aqueles que saqueiam e continuam com violência e intimidação.

"Embora possam ser atos oportunistas de pilhagem causados por privações e pobreza, os pobres e marginalizados suportam o impacto final da destruição", considerou o chefe de Estado sul-africano.

Na Cidade do Cabo, onde os centros comerciais foram encerrados devido aos distúrbios no KwaZulu-Natal e Gauteng, três pessoas foram assassinadas na manhã de hoje e outras seis ficaram feridas em confrontos armados entre motoristas de táxi, divulgou a Polícia em comunicado citado pela imprensa.

Notícia atualizada às 17h46

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