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O Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, cancelou esta quinta-feira uma entrevista com a jornalista da CNN Christiane Amanpour após esta ter recusado usar um lenço na cabeça, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
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Um assessor de Raisi dirigiu-se a Amanpour, 40 minutos depois do início da entrevista, pedindo que usasse um véu, "por serem os meses sagrados de Muharram e Safar".
A conhecida jornalista britânica-iraniana recusou o pedido.
"Estamos em Nova Iorque, onde não há lei ou tradição sobre lenços na cabeça. Apontei que nenhum outro presidente iraniano exigiu isso quando realizei entrevistas fora do Irão", disse Amanpour.
A também Embaixadora da Boa Vontade da Unesco afirmou que o assessor "deixou claro que a entrevista não aconteceria se não usasse um lenço na cabeça".
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"Disse que era 'uma questão de respeito' e referiu-se à 'situação no Irão', aludindo aos protestos no país", indicou.
Amanpour e a sua equipa afastaram-se, dizendo que a repórter não podia concordar com "essa condição sem precedentes e inesperada".
"A entrevista não aconteceu. À medida que os protestos continuam no Irão e as pessoas estão a ser mortas, teria sido um momento importante para falar com o presidente Raisi", disse a jornalista que já partilhou no Instagram uma imagem do cenário criado: à sua frente, uma cadeira vazia, onde devia sentar-se Raisi.
De acordo com Amanpour, seria a primeira entrevista de Raisi nos Estados Unidos, onde está de visita Nova Iorque para participar na 77.ª sessão da Assembleia Geral da ONU.
"Após semanas de planeamento e oito horas a montar equipamentos de tradução, luzes e câmaras, estávamos prontos. Mas nenhum sinal do presidente Raisi", acrescentou Amanpour no Twitter.
A entrevista iria ocorrer após o caso da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, que foi detida na terça-feira passada pela designada "polícia de moralidade" de Teerão, onde se encontrava de visita, por alegadamente trazer o véu de forma incorreta e transferida para uma esquadra com o objetivo de assistir a "uma hora de reeducação".
Morreu três dias mais tarde num hospital onde chegou em coma após sofrer um ataque cardíaco, que as autoridades atribuíram a problemas de saúde, versão rejeitada pela família.
Desde então multiplicaram-se os protestos em pelo menos 20 cidades, com a morte de pelo menos 17 pessoas, segundo anunciou hoje a televisão estatal iraniana.