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Odessa Rae, investigadora da fundação anti-corrupção, confessa que é devastador ver as fotografias atuais do opositor russo. Entrevistada esta tarde, pelo Washington Post com Maria Pevchick, produtora executiva do documentário, contou as condições em que está detido. A produtora do documentário explica que o acompanhou na recuperação e no regresso à Rússia e, por isso, não tem dúvidas em dizer que o tratamento a que está sujeito equivale a tortura. Garante, no entanto, que as autoridades não vão conseguir quebrá-lo.
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"Ele tem o espírito mais forte do que qualquer outra pessoa que conheço. É alguém que olha para a vida sempre como o copo meio cheio. É muito forte, mas ver o que se está a passar é muito perturbador," explicou Odessa Rae.
Navalny está há quase quatro meses numa cela com dois por três metros, onde é suposto um detido permanecer no máximo 12 dias. Maria Pevchick, que trabalhou com ele durante uma década, diz que esse limite não está a ser cumprido com Navalny porque sempre que acaba uma punição começa outra.

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"O sistema prisional russo e, por certo, o atual governo inventaram um sistema doentio. A cada semana surgem com novas violações aos regulamentos da cadeia que têm por objetivo mantê-lo na solitária indefinidamente. São acusações claramente inventadas. A última tinha a ver com o facto de ter lavado a cara fora de horas. Em vez de o fazer às 6h00, como está marcado, lavou a cara às 5h30 e foi punido. Todos percebemos que o verdadeiro crime dele é continuar a falar contra a guerra e contra o Kremlin", esclareceu Maria Pevchick.
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Navalny passa 24 horas por dia na cela, só pode ter um livro e por meia hora, em cada dia, dão-lhe papel e caneta para escrever. O objetivo, contam as produtoras, é não ter nada para fazer. O tempo custa mais a passar.
O documentário, que saiu há um ano, foi agora nomeado para um Óscar. Os apoiantes de Navalny, que querem mantê-lo vivo, dizem que a nomeação ajuda a dar-lhe visibilidade. A produtora Odessa Rae explica que foi para isso que trabalharam. "Esforçámo-nos tanto para que o filme fosse visto porque acreditamos que isso vai dar-lhe mais segurança. Manter o nome dele na esfera pública ajuda a mantê-lo vivo."
Maria Pevchick concorda com esta visão e lembra que o documentário é como um seguro de vida porque o opositor está nas mãos dos que já o tentaram matar. "Com o documentário chegámos a pessoas que não se interessavam pela politica russa. É óbvio que hoje a realidade é outra, a guerra na Ucrânia fez com que já não seja possível ignorar o que se passa no país. O documentário acaba por explicar quem é Putin e o que é capaz de fazer. Mostra também que a Rússia não é o Presidente, e ele não é a Rússia."
A investigadora da Fundação anticorrupção, criada pelo opositor defende que os Óscares, que são o maior palco do cinema no mundo, vão ajudar a tornar mais difícil que o Kremlin atue contra Navalny. O objetivo agora é pedir às pessoas que não se esqueçam dele porque Navalny é, potencialmente, o futuro da Rússia, um país que será muito diferente do que existe hoje.