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Uma das incógnitas que se mantém em torno da vacinação contra a Covid-19 é o tempo que durará a imunização e a proteção em relação ao coronavírus. Nos Estados Unidos da América, os Institutos Nacionais da Saúde iniciaram um ensaio clínico com pessoas que receberam a vacinação completa de qualquer uma das farmacêuticas, de forma a compreender se um reforço com a fórmula da Moderna poderá aumentar a quantidade de anticorpos e prolongar a proteção contra o coronavírus.
O jornal The New York Times salienta que muitos investigadores estimam que as vacinas da Pfizer-BioNTech, da Moderna e da Johnson & Johnson (as fórmulas autorizadas nos EUA) terão efeito até um ano, mas não há ainda certezas, sobretudo atendendo à emergência de novas variantes do vírus.
A publicação norte-americana também explicou o que já se sabe e o que ainda é desconhecido quanto à necessidade de reforço da vacina contra a Covid-19.
Uma vacina anual contra a gripe, duas doses contra o sarampo com efeito vitalício. Como explicar a diferença de duração?
Diferentes agentes patogénicos afetam o sistema imunológico de formas diferentes. Para algumas doenças, como o sarampo, ficar doente uma vez leva à proteção vitalícia contra outra infeção. Mas há agentes patogénicos para os quais as nossas defesas imunológicas diminuem ao longo do tempo.
O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, por exemplo, recomenda que a cada década seja reforçada a vacina contra o tétano. Em Portugal, a vacina do tétano deve ser tomada em doses reduzidas aos 25, 45, 65 anos de idade e, posteriormente, de 10 em 10 anos. O vírus da gripe é tão suscetível a mutações que todos os anos é necessária uma nova vacina.
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As vacinas contra a Covid-19 são tão eficazes quanto as que previnem outras doenças?
O New York Times sublinha que ainda não há uma resposta simples a esta pergunta, embora os primeiros sinais sejam encorajadores. Os investigadores têm estado a recolher sangue dos voluntários em ensaios de vacinas e a medir os seus níveis de anticorpos e células de resposta imunitária que têm como alvo o coronavírus.
É possível, de acordo com os cientistas, que a proteção da vacina permaneça durante muito tempo, talvez até anos, e que as pessoas que foram previamente infetadas e então receberam a vacina possam desfrutar de uma proteção ainda mais durável. Alguns especialistas esperam que, com este possível prolongamento da imunidade ao longo de anos, não seja possível qualquer reforço.
Há vacinas contra a Covid-19 mais duráveis do que outras?
É ainda possível que os efeitos da vacina contra a Covid-19 sejam mais duráveis. De acordo com os estudos existentes, as vacinas da Moderna e da Pfizer-BioNTech poderão surtir efeito por mais tempo, já que a sua base são moléculas de ARN.
Já vacinas que se baseiam em vírus inativados, como a chinesa Sinopharm e a indiana Bharat Biotech, deverão ser menos eficientes ao longo do tempo.
No entanto, o jornal The New York Times também esclarece que as vacinas de ARN são relativamente recentes e que, portanto, a imunidade que geram não foi ainda extensivamente estudada.
Num estudo com ratos que receberam diferentes tipos de vacinas contra a gripe - algumas produzidas com ARN e outras com vírus inativados - o imunologista Scott Hensley, da Universidade da Pensilvânia, constatou que o nível de anticorpos produzidos pelos dois tipos de vacinas era "escandalosamente diferente".
Os especialistas esperam que a proteção das vacinas menos eficazes desapareça mais rapidamente. A vacina da Sinopharm pode até já estar a dar provas desse declínio. Os ensaios clínicos da farmacêutica apontam para uma eficácia de 78%.
Como saber quando as vacinas perdem eficácia?
Os investigadores estão à procura de marcadores biológicos que possam revelar quando a proteção de uma vacina é já insuficiente para conter o coronavírus. É apontada a possibilidade de que um certo nível de anticorpos marque um limite, abaixo do qual o risco de infeção volta a aumentar. Alguns estudos preliminares sugerem que esses marcadores existem para as vacinas contra a Covid-19; só falta encontrá-los.
As variantes aumentam a probabilidade de ser necessário um reforço?
A necessidade de reforços para bloquear novas variantes do vírus é uma possibilidade que ganha força. No entanto, a hipótese ainda não foi comprovada. O surgimento de muitas variantes nos últimos meses acelerou os estudos sobre os reforços.
Algumas variantes têm mutações que as levaram a propagar-se de forma particularmente rápida. Há ainda mutações que podem comprometer a eficácia das vacinas autorizadas. Mas, neste momento, os cientistas ainda têm apenas algumas pistas sobre como as vacinas existentes funcionam contra as diferentes variantes. No último mês, por exemplo, investigadores do Qatar publicaram um estudo sobre a vacina Pfizer-BioNTech, que foi dada a mais de um quarto de milhão de residentes do país entre dezembro e março.
Os ensaios clínicos mostraram que a vacina tinha uma eficácia de 95% contra a versão original do coronavírus. Mas uma variante chamada Alpha, identificada pela primeira vez na Grã-Bretanha, reduziu a eficácia para 89,5%.
Já uma variante identificada pela primeira vez na África do Sul, conhecida como Beta, diminuiu ainda mais a eficácia da vacina, para 75%. Contra ambas as variantes, no entanto, a vacina foi 100% eficaz na prevenção de doenças graves, críticas ou fatais.
A evolução do coronavírus é, no entanto, incerta, e para já os cientistas não podem descartar a possibilidade de surgirem novas variantes nos próximos meses, que se consigam propagar rapidamente e que resistam às vacinas.
