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Estavam os três na fila de carros parados em direção à fronteira com a Polónia. Iam tratar de deixar a salvo as mulheres e os filhos. Como eles, quase dois milhões de mulheres e crianças ucranianas, conduzidas pelos maridos em carros, carrinhas e autocarros, passam sete dias na estrada à espera de uma porta de saída da guerra.
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Ao longo do caminho, voluntários tratam de garantir sopa quente e alguma comida sólida. Nunca como hoje os ucranianos estão tão unidos, próximos e solidários.
Ouça aqui a reportagem da TSF
A dimensão das filas para as onze fronteiras terrestres da Ucrânia com os vizinhos ultrapassa os 20 quilómetros. Agora, imagine o que é passar uma semana num carro, ou numa carrinha, ou dentro de um autocarro, com crianças pequenas e um inverno rigoroso, com temperaturas negativas durante a noite e, às vezes, neve. Andrei, Yurii e Taras acabaram a conversar e, em pouco tempo, tornaram se amigos. Andrei, que tem uma carrinha, ofereceu se para levar as mulheres e as crianças do três. Desta forma, poupava a paciência dos novos amigos e garantia que as três famílias chegavam juntas à Polónia. Feito o trato, Andrei ficou com o encargo. Na carrinha levava tres mulheres e quatro crianças.
É preciso uma situação limite para que três desconhecidos confiem uns nos outros a este ponto.
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Andrei fala mal inglês, mas quer saber tudo o que vamos falando com Yurii, um engenheiro de IT, que vivia e trabalhava em Kiev. Tara, hoje, não viajou com os novos amigos. Despediram se numa bomba de gasolina, como quem se despede de alguém que não sabe se voltará a ver.
As famílias dos três são apenas uma pequena gota de água. Estima se que dois milhões de mulheres e crianças ucranianas estejam nas filas para deixar o país. O maior êxodo na Europa depois da segunda guerra mundial.
A imagem é impressionante. Uma fila de automóveis sem fim, que afunila conforme acaba na direção da fronteira. Os autocarros r as carrinhas tem prioridade, porque transportaram mais pessoas, os carros ficam para o fim. A Polónia não fechou as fronteiras, pelo contrário, mas está a racionar as entradas, primeiro porque não tem capacidade de receber dois milhões de pessoas de uma só vez e, depois, porque precisa de tempo para acolher quem chega e, depois, distribuir os vizinhos por diferentes cidades. Do lado polaco o processo está bem organizado, com cuidado r atenção para com quem chega. Mas para quem quer sair, uma semana de espera é um verdadeiro inferno.
Não é, por isso, de estranhar, que quando finamente conseguem atravessar a fronteira, cansadas e desesperadas, as mulheres reputem fundo e esbocem um sorriso. Triste, mas um sorriso.
Nos quatro dias que passaram desde que se conheceram, Andrei, Yurii e Tacas continuam a ajudar outras pessoas a chegar à fronteira.
Putin não sabe, não faz ideia, mas, aconteça o que acontecer, estes três homens tornaram se inseparáveis. Estão a aceitar a guerra com uma dignidade própria de quem se sente aconchegado pela razão. "A Ucrânia tem dois problemas", brinca Yurii. "As estradas e o Putin". Confessa que Zelinsky estava a tentar modernizar a Ucrânia e que esse esforço se perdeu. "Hoje estamos com ele. Tem-se revelado um homem corajoso". Andrei concorda.
Quando lhe perguntamos quanto temos de pagar para nos dar boleia entre a fronteira e Liviv, sorri. Usa os dedos para desenhar um "zero" e, mesmo sem falar inglês, diz: "não queremos dinheiro, queremos liberdade".
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