Reportagem TSF. Baterias russas apontadas a sul

Kharkiv, Vasylkiv, Mikolaev, Lozova, Maryinka, Heorhiivka, Chumakove, Ochakiv e Odessa. É este o mapa dos bombardeamentos russos na Ucrânia. Depois de um dia baixa intensidade, os ataques de Moscovo voltaram ontem em força.

Um minuto depois do fim do recolher obrigatório, três violentas explosões sacudiram Odessa. Pela primeira vez as defesas da cidade foram incapazes de parar os mísseis russos. Num ápice o céu ficou coberto por uma imensa coluna de fumo negro que surgia da zona portuária, o cheiro a combustível queimado era intenso por toda a cidade. Três depósitos de combustível e uma refinaria foram atingidos. No local ouviram-se várias explosões ao longo do dia.

Nem os seis anos de combate no Afeganistão fazem Sergiy perder o medo. A onda expansiva de impacto de uma das explosões na refinaria partiu todos os vidros de uma janela que tentava fechar quando se apercebeu do ataque. O antigo soldado do exército vermelho não encontra explicação para o que está a acontecer, mas garante que o exército de Putin não é constituído por russos. "São mercenários abecasis. Por isso não têm nada a perder", afirma enquanto fuma com o olhar hipnotizado pelas labaredas. Ao lado, o amigo Valentin também não tira os olhos do fogo, apenas abana a cabeça em sinal de concordância.

"O mais assustador não é a explosão, são os 3 segundos que antecedem, em que ouves a bomba a sobrevoar", explica Vasily à TSF. O homem sabe do que fala. Mora a menos de 200 metros do local de embate dos. Esta manhã acordou pouco antes das seis da manhã. "Ao nascer do dia levantei-me para abrir a porta aos animais de estimação, tenho um cão e um gato". Quando ouviu as explosões foi a correr para a cave.

Vitaly está sozinho em casa. A mulher e a filha partiram logo depois dos primeiros ataques russos há mais de um mês."Estão na Alemanha, mas não sei em que parte. Eu fiquei para cuidar da casa do meu pai que já é velho", conta emocionado. O irmão está agora a combater nas fileiras do exército ucraniano. Eu estou à espera, se for chamado também vou combater", acrescenta.

Quando o encontrámos passeava o cão indiferente à azáfama de bombeiros, polícias, proteção civil junto e militares à entrada para a refinaria. Ali ao lado, num parque infantil, a cora azul de um periquito contrastava com o negro do fumo que saía do incêndio.

Ivan, Vanya e Yura parecem curiosos com o vai-e-vem de jornalistas e mirones. Depois do André lhes tirar uma foto, as crianças dão saltos de alegria com a hipótese de aparecerem retratos no jornal. Ainda arriscam umas palavras em inglês para agradecer a atenção.

Na zona há dezenas de estilhaços dos mísseis russos. O primeiro encontramo-lo num baloiço, onde os três amigos costumam andar. Mais acima, Alexey aproxima-se dos jornalistas com um pedaço de metal na mão. O homem explica que caiu no seu quintal "Ainda estava quente. Felizmente ninguém se aleijou. Estávamos todos deitados no chão."

Os ataques ao porto de Odessa, em dois dias consecutivos, fazem-no temer o pior. "Claro que temos medo, acredito que todas as pessoas neste bairro têm muito medo"

A esta hora ainda não tinha chegado a confirmação da autoria do ataque. A comunicação do Ministério russo da Defesa chegou ao final da manhã. "Esta manhã, uma refinaria e três depósitos de combustível na região de Odessa, que abasteciam as tropas ucranianas na direção de Mykolaiv, foram destruídos por mísseis navais e terrestres", afirmou o porta-voz.

Na semana passada, pudemos perceber que, na estrada que liga Odessa a Mykolaiv, o tráfego de camiões cisterna era intenso. Durante a manhã, uma pessoa morreu e 14 ficaram feridas depois de mais um bombardeamento. A cidade já tinha sido atingida na terça-feira e na sexta-feira foi lá que vimos sob as nossas cabeças os mísseis russos serem destruídos pela artilharia ucraniana.

O distrito de Kherson está quase na totalidade sob domínio russo. A linha avançada das tropas de Putin está agora a 30 quilómetros do centro de Mykolayiv. A cidade é o último reduto a separar as tropas russas de Odessa. Se cair, sobram pouco mais de 130 quilómetros quase sem obstáculos até às margens do mar do negro.

Na praça central de Kherson, houve este domingo um protesto contra os invasores e a Odessa chegam relatos de um comboio humanitário com várias dezenas de pessoas bloqueadas nos postos de controlo russos e impedidas de sair da cidade.

Com a ameaça russa cada vez mais próxima, a cidade com um milhão de habitantes ficou ainda mais vazia. Centenas de carros carregados até ao teto abandonaram Odessa. Minutos depois de se perceber o local das explosões formaram-se longas filas nos postos de abastecimento da cidade.

Quase um mês e meio depois do início da guerra, as baterias russas parecem apontar para o sul. Ao largo de Odessa, permanecem os vasos de guerra russos. Na noite anterior ao bombardeamento, o presidente Volodymyr Zelensky revelou aos ucranianos que o objetivo de Putin é tomar o sul do país.

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