Reportagem TSF. Valentin Didkovsky já foi um homem procurado por russos e ucranianos
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Reportagem TSF. Valentin Didkovsky já foi um homem procurado por russos e ucranianos

A confissão surge na primeira pessoa: "Fiz explodir um camião tanque do exército russo. Atirei granadas e depois tive que vir para Irpin." Naquela época, Bucha já estava ocupada.

"Eles andavam à minha procura, mas a morada nos documentos não estava correta." O protagonista desta história de guerra é Valentin Didkovsky, um homem que chegou a ser procurado pelos dois lados deste conflito.

Depois dos russos, também os serviços secretos ucranianos tentaram encontrá-lo, mas quando bateram à porta não estava em casa. Foi a mulher quem recebeu os agentes. Deixaram um número de telefone.

"Liguei e disseram-me que sabiam onde eu estava. Pediram-me para, se tivesse uma arma, disparar a matar assim que visse o inimigo". Desde aí, Valentin, um homem de Lviv, defendeu Bucha e Irpin.

Os "rapazes" ucranianos, conta, não estavam na zona. "Lutámos aqui, em Irpin, em Romanivka. Ajudamos as pessoas a sair de Irpin e de Bucha, cruzámos a ponte destruída sobre o rio Irpin."

Depois disso, relata, foram "limpar" as duas cidades: "Retirávamos as pessoas mortas, era um pesadelo, eram tantos", a maior parte deles civis.

"A maioria foi baleada e, claro, torturada." Viu famílias inteiras "mortas a tiro dentro dos carros". No cruzamento Gostomel-Irpin "estava uma família inteira baleada na beira da estrada" e, pelas ruas, "havia muitos, muitos civis, pessoas que estavam a fugir e foram baleadas".

As autoridades ucranianas acreditam que morreram mais de 650 pessoas em Bucha durante o mês em que a cidade foi ocupada.

Os óculos de sol que usa enquanto fala com a TSF ajudam-no a esconder a emoção. Desde a libertação de Bucha que não combate. Enverga com orgulho a farda da defesa territorial ucraniana e já há nove anos, mesmo antes da guerra chegar à porta de casa, que participa como voluntário em muitas batalhas no Donbass. Não se considera um herói.

"Só posso dizer uma coisa: se houvesse mais pessoas assim... Não quero dar o exemplo, mas ainda teríamos lutado muito, principalmente porque eu tinha experiência." Valentin conta que serviu na União Soviética, na Marinha, e desde 2014, viajou "para a linha de frente".

"Da última vez, a minha carrinha foi alvejada." Conseguiu chegar a casa, mas depois teve "um derrame cerebral" e "nunca mais" foi.

Reconstruir as casas - a própria e a dos filhos - é agora uma prioridade. São algumas entre as muitas que foram destruídas pelos combates na região de Bucha. Aos 64 anos e sem netos diz que ainda se sente "novo".

Sob o sol de inverno de Irpin, Valentin explica calmamente que mora agora num centro de acolhimento com mais 400 pessoas. "Tento ter cuidado para não ficar doente, os meus filhos ainda precisam de mim. Eles têm de restaurar as casas onde moravam". E esse processo já está em curso.

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