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Acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou esta quinta-feira o cemitério, em Díli, prestando homenagem às vítimas do massacre de Santa Cruz, que aconteceu a 12 de novembro de 1991, e onde morreram pelo menos 250 pessoas, vítimas da repressão indonésia.
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Em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se muito emocionado: "Quando nós aqui chegamos, nós, aqueles mais velhinhos que nos recordamos do que se passou, temos uma emoção muito forte, porque é ver o local onde tudo se passou e imaginamos como se terá passado e em que condições dramáticas se passou para ser, no fundo, uma mistura de religião e de entidade nacional, de espírito de independência e de liberdade, a determinada procura de um cemitério para ser o último refúgio contra os invasores."
Ouça aqui as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas
O Presidente da República garantiu que "todos os portugueses que tenham mais de 50 anos, porque isto se passou há mais de 31 anos, têm memória do que aqui se passou e nos chegou no dia seguinte. Para fugir, um punhado de timorenses teve que se refugir num cemitério, no fim do fim do cemitério. O último e desesperado grito de defesa".
O jovem, de 18 anos, foi morto num ataque à igreja de Motael em outubro de 1991, tendo sido num cortejo fúnebre em sua honra que milhares de jovens se concentraram em Santa Cruz, acabando por ser baleados por militares indonésios.
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Mais de 200 pessoas morreram nesse dia e nos seguintes e a grande maioria dos corpos nunca foram recuperados, com Santa Cruz a tornar-se um dos principais símbolos da violência da ocupação indonésia que durou quase um quarto de século.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou as imagens do massacre no cemitério de Santa Cruz, filmadas pelo jornalista Max Sthal. Mais de 30 anos depois desse massacre, o Presidente da República encontrou um povo que desperta muitos sentimentos.
"É respeito, admiração relativamente à coragem deste povo. É orgulho por aquilo que o define e que nos aproxima a nós desse povo e o aproxima de nós. É a noção de que, como potência colonizadora, naturalmente, que houve factos que naquele contexto não correram bem no processo de descolonização, mas depois é uma espécie de redenção, ao menos parcial, do nosso pais e do nosso povo quando, compreendendo os erros cometidos, alinha ao lado do povo timorense, sem uma dúvida, sem uma hesitação, se bate pela causa timorense, talvez a única causa que teve o apoio de 100 por cento dos portugueses em tantos nos de democracia", disse , acrescentando que: "De repente, certo tipo de realidades, são uma espécie de faísca que despertam as consciências em Portugal e no mundo. O que se passou foi espantoso. Aquele povo que tinha a nossa solidariedade, mas estava muito isolado ao nível de grandes potências mundiais, acordou as opiniões públicas, povos de todo o mundo e os responsáveis desses povos."
Marcelo fala dos sentimentos que encontrou no povo timorense
"Percebe-se bem o que foi a luta timorense para chegar ao que chegou contra todos os argumentos, toda a geopolítica, da localização geográfica, de estar em condições de isolamento no mundo. Apesar disso tudo resistiu, resistiu e venceu", afirmou, reforçando que "com o que sabemos hoje do povo timorense sabemos que chegaria sempre à independência, mas quanto tempo mais não demoraria. Mesmo assim foram mais oito anos até ao referendo, 11 até à independência".
"O que não seria necessário de resistência, mortes, sacrifícios, prisões de dominação sobre uma cultura e identidade nacional muito forte", sublinhou.
Um dos momentos mais fortes das imagens de Stahl, pelo menos para Portugal, foi o facto de sobreviventes se terem juntado na pequena capela do cemitério, começando a rezar em português, língua que se tornou da resistência.
"Lembro-me perfeitamente. É uma mistura muito identitária, fortíssima, identitária e de história, de cultura, de tradição nacional e de componente religiosa e naturalmente depois de afirmação em língua portuguesa uma maneira de rejeitar a língua do invasor, a imposição cultural do invasor", considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se a Timor-Leste especialmente para as cerimónias oficiais dos 20 anos da restauração da independência e de posse do novo Presidente timorense, José Ramos-Horta, nas quais representará o Estado português e as instituições europeias.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou na quarta-feira a Timor-Leste e garantiu que o apoio de Portugal ao país vai aumentar.
"Vamos fazer ainda mais do que aquilo que temos feito. Portugal tem feito muito nos mais variados domínios. Da educação, à cooperação social, à cooperação política, diplomática, militar, na segurança, também económica e financeira. Temos de fazer mais. Vamos fazer mais", disse o Presidente da República à chegada a Timor-Leste.
Logo após chegar a Díli, teve esta quinta-feira um encontro com o antigo Presidente timorense Xanana Gusmão. Depois, saiu para uma caminhada entre o hotel em que está instalado e o centro de convenções, num edifício do período colonial onde era o mercado municipal.