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O Brasil está a atravessar a maior tensão política e militar das últimas décadas, após a decisão do Presidente Jair Bolsonaro de afastar seis ministros - entre os quais, o titular da pasta da Defesa, Azevedo e Silva -, o que levou à demissão, em solidariedade com o ministro, dos comandantes dos três ramos das forças armadas - Exército, Marinha e Força Aérea -, algo inédito no país.
Entre as causas para o afastamento do ministro brasileiro da Defesa está o facto de este não ter acolhido a ideia de Bolsonaro de decretar estado de sítio no Brasil, o que permitiria suspender as garantias individuais e conferiria plenos poderes ao Presidente.
Jair Bolsonaro pretendia declarar este estado de exceção como forma de resposta às medidas de restrição à circulação promovidas pelos governadores de alguns estados, para fazer face ao pior momento da pandemia de Covid-19 no Brasil, que conta com mais de 300 mil mortos (cerca de 3 mil óbitos diários).
Uma série de demissões sucederam-se no Brasil, nos últimos dias
A recente crise militar está a levar a acusações, dirigidas a Bolsonaro, de preparação de um golpe de Estado.
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Marco António Villa, historiador e um dos principais comentadores políticos no Brasil (insuspeito de simpatias com Lula e o PT), afirmou no jornal da TV Cultura que Bolsonaro é um nazifascista, que conspira contra o país e a Constituição, um Presidente que só vive do caos.
"O Presidente está caminhando para o golpe de estado. Trocou o ministro da Defesa, que várias vezes se colocou contra Bolsonaro quando ele queria instrumentalizar as Forças Armadas, em especial o exército, para as suas tentativas golpistas, e foi contra o que ele quis fazer na semana passada, de impor o estado de sítio", expõe o comentador.
Marco António Villa acredita que, se a sociedade civil não responder, o Brasil vai cair numa ditadura
"É uma situação muito grave, a que estamos vivendo. O Presidente avançou as suas peças, ele é um golpista, um nazifascista, não é um democrata. Ele conspira contra a Constituição (...), é um perigo para a democracia brasileira. (...) Quer esconder o desastre dos 315 mil mortos [vítimas da pandemia de Covid-19], de que ele é o principal responsável, e agora desviou [as atenções] para esta questão política", acusa.
"Bolsonaro só vive do caos, portanto, ou a sociedade civil responde rapidamente ou teremos uma ditadura no Brasil - e pior, uma guerra civil", atira Marco António Villa.
Também Reinaldo Azevedo, um dos mais populares comentadores da TV brasileira, na Band News, descreveu Bolsonaro como um capitão expulso do exército por indisciplina, que tem prazer em "humilhar" generais.
"É uma coisa típica de um capitão indisciplinado que foi 'chutado' da força e que gosta de humilhar militares. É o oitavo general que ele demite, e sempre com ritual de humilhação", notou o comentador.
Reinaldo Azevedo considera que Bolsonaro gosta de "humilhar generais" por ter sido um militar mal-sucedido
Já a 21 de março, data do seu aniversário, Bolsonaro havia declarado, num discurso a apoiantes, que estes poderiam ter a certeza que o exército era seu e que o povo podia contar com as Forças Armadas contra os "tiranetes que tolhem a liberdade", referindo-se aos governadores e às medidas de isolamento social propostas por estes para o combate à pandemia que assola o país.

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