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Na Síria são muitos os que se identificam com o que estão a viver os ucranianos, durante anos Putin esteve ao lado de Bashar Al Assad e arrasou cidades inteiras. Os sírios têm acompanhado, por isso, atentamente o que se está a passar na Europa.
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Para Ammar Alselmo, a invasão da Ucrânia trouxe-lhe à memória alguns dos piores momentos que viveu. Este capacete branco testemunhou de perto a violência das tropas russas e confessa que não esperava que o horror se repetisse, "o que vimos na Síria e continuamos a ver na Ucrânia, esperávamos nunca mais testemunhar. As estratégias que os russos usaram na Síria estão a ser repetidas na Ucrânia. Temos muito medo pelos ucranianos porque sabemos muito bem como a Rússia faz a guerra."
Ouça aqui a reportagem.
Este antigo habitante de Alepo recorda que os soldados russos não conhecem limites, para eles não há alvos proibidos. "Os russos atacam em todo o lado, escolas, jardins de infância, instalações médicas. O que aconteceu em Mariupol, o ataque contra a maternidade, eu também vivi isso. Houve um ataque contra a maternidade em Alepo ocidental. Eles lançaram seis mísseis apenas duas horas depois de terem anunciado um cessar-fogo."
Ammar Alselmo diz que há outras semelhanças entre as duas cidades, "lembro-me que em Alepo eles anunciavam a abertura de corredores humanitários. As pessoas acreditavam e preparavam-se para sair. Quando seguiam na estrada, que lhes tinha sido indicada, os russos bombardeavam essa zona e muitos civis morriam. Quando as deixavam passar queriam levá-las para zonas controladas por eles e pelas forças de Assad, mas as pessoas não se sentiam seguras. Na Ucrânia isso também está a acontecer, querem levar os civis para a Russia. Isto não é auxilio humanitário é deslocar as pessoas à força."
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A estratégia de guerra dos russos é sempre a mesma e foi testada na Síria. Primeiro cercam a cidade, depois destroem as infraestruturas e as habitações. Por fim impedem o acesso dos cidadãos a bens essenciais como a comida, água, eletricidade, aquecimento e medicamentos. Só param quando já não existe capacidade de resposta por parte dos opositores e aí expulsam os civis das localidades. Ammar Alselmo sublinha que a selvajaria das tropas russas é chocante, as pessoas têm de perceber que os ucranianos estão a enfrentar a mais feroz máquina assassina que existe hoje no mundo.
Os capacetes azuis têm sido contactados por organizações ucranianas que lhes pedem ajuda, querem saber como se podem proteger. Ammar Alselmo diz que têm partilhado as estratégias que aprenderam durante a guerra.
Este sírio tem a esperança de que Vladimir Putin seja travado agora porque ninguém o fez na Síria. "Dissemos muitas vezes que havia crimes de guerra e crimes contra a humanidade a serem praticados na Síria. Se o tivessem travado aí, agora não havia invasão da Ucrânia, mas optaram por não nos ouvir," lamenta Alselmo.
Ammar Alselmo espera que este novo conflito sirva para colocar o presidente russo no banco dos réus por todas as atrocidades que permitiu. Ele deseja aos ucranianos um futuro melhor do que o dos sírios admitindo que a guerra deixou um vazio irreversível na alma do povo.