Na primeira grande cidade da Ucrânia tomada pelos russos, Tatyana Merzlikina continua a trabalhar, tem que garantir sustento aos dois filhos que estão noutra cidade, mas a comida e os medicamentos começam a escassear.
Tatiana Merzlikina acredita que a escassez de comida e medicamentos resulta de uma estratégia russa. "Estão a criar artificialmente esta situação para levar as pessoas à exaustão e fazer com que aceitem a ajuda deles." A maioria dos habitantes, revela Tatiana, não vai buscar nada aos camiões russos, nem comida, nem medicamentos, chamam-lhes "assassinos".
Desde o dia dois de março que Kherson está nas mãos das forças armadas russas que bloquearam as entradas e não deixam entrar ajuda humanitária. "Qualquer ajuda do lado da Ucrânia está bloqueada. "Eles bombardeiam os comboios humanitários e não há qualquer hipótese de entrarem na cidade", garante. E mesmo para as pessoas comuns, entrar ou sair de Kherson é uma aventura. Tatiana conta que os russos revistam os porta bagagens e veem tudo o que está dentro do carro. "Perguntam para onde vamos e para quê, pedem os telemóveis, vêem os chats e todas as aplicações. Se no carro estão dois ou mais homens torna-se suspeito, se for uma família inteira ou um casal é mais fácil passar", explica a ucraniana de 29 anos.
Apesar do controlo russo vários moradores de Kherson têm organizado protestos. Tatiana conta que é assim desde o primeiro dia, mas a repressão tem aumentado. "Os civis vão às ruas para protestar, organizar as manifestações, mas são dispersos com gás lacrimogéneo". Nesta cidade, do sul da Ucrânia quem ficou está agora subjugado à vontade russa.
Na conversa com a TSF, Tatiana Merzlikina revelou que há poucos dias teve a experiência de passar pelos postos de controlo russos quando foi ver os filhos que estão numa cidade vizinha onde dormem escondidos das bombas. Os bombardeamentos continuam à volta de Kherson, principalmente em Miklolaiv e Zaporitzia, onde estão a acontecer batalhas entre russos e ucranianos, mas mesmo em Chernobaivka onde tem os filhos, o cenário é de destruição.
"Muitas casas foram completamente destruídas, as pessoas não têm onde viver", lamenta Tatiana que revela que apesar de todas as dificuldades o governo local vai ajudando como pode na reconstrução das casas. Em Chernobaivka, não há "refúgios no verdadeiro sentido da palavra". Tatiana afirma que os únicos dois que existem são poucos para os 20 mil residentes da cidade e, por isso, quase todos se abrigam nas caves das casas. É o o que acontece com filhos de Tatiana que estão nesta cidade dos arredores de Kherson. "Durante o dia não há muito stress, mas à noite eles descem para a cave" e Tatiana só não os leva com ela porque tem que trabalhar e prefere manter a família separada para que se houver alguma fatalidade, sobreviva sempre alguém que possa tomar conta dos filhos.
Tatiana Merzlikina ainda acredita que as forças ucranianas vão recuperar a região, diz que têm sido bem sucedidas em Mikolaiv e em Zaporitzia e, por isso, está confiante. " Penso que em breve estaremos livres dos invasores e os soldados russos tomarão o caminho para a Federação Russa."
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