"Totalmente inaceitável." Migrante morto na fronteira bielorrussa pode ser nona vítima de hipotermia

O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações considera "totalmente intolerável e inaceitável" a situação vivida na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia, com milhares de migrantes retidos e a nona morte registada devido ao frio.

Um refugiado sírio foi nesta manhã encontrado morto na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia. O diretor-geral da Organização Internacional das Migrações alerta para a urgência da chegada de ajuda a estes migrantes, que continuam retidos num limbo gerado por crispações diplomáticas.

O jovem sírio estava já em território polaco. Apesar de não se ter confirmado a causa de morte, a justificação mais provável é neste momento a hipotermia. Foi o frio que matou as outras oito vítimas já registadas.

António Vitorino, diretor-geral da Organização Internacional das Migrações, defende, em entrevista à RTP, que é urgente estas pessoas terem ajuda humanitária. "Estamos a assistir a uma situação que é totalmente intolerável e inaceitável. A subida da tensão política que envolve este caso não ajuda nada a encontrar soluções."

"É inadiável as organizações humanitárias, a começar pelas agências das Nações Unidas, como o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e as organizações não-governamentais, terem acesso a estas pessoas, para que lhes possam prestar a assistência humanitária necessária", postula o responsável.

António Vitorino considera que é inaceitável o que está a acontecer, e pede sensatez a ambos os lados da fronteira. "A verdade é que, nem de um lado - do lado bielorrusso -, nem do lado polaco, neste momento, a comunidade internacional tem acesso a estas pessoas. Espero que dois lados haja bom senso, a razoabilidade, e que se encontrem, se não diretamente, em virtude da situação política, pelo menos por via de intermediários, de terceiros interpostos, as vias de diálogo para aliviar o sofrimento destas populações."

O diretor-geral da Organização Internacional das Migrações indicou ainda à RTP que espera que polacos e bielorrussos consigam chegar a um entendimento, mesmo que seja através de intermediários, já que as posições estão muito extremadas.

Neste momento milhares de migrantes, oriundos de vários países do Médio Oriente, estão retidos na fronteira da Bielorrússia com a Polónia. O mais recente balanço apontava que seriam mais de dois mil; duas mil pessoas há vários dias num acampamento improvisado, que esperam poder entrar na Europa.

Vários países que integram o Conselho de Segurança da ONU acusam a Bielorrússia de, com esta instabilidade na fronteira para a União Europeia, tentarem desviar a atenção das crescentes violações dos direitos humanos no país. O Conselho de Segurança da ONU também acusa este regime reeleito num sufrágio fraudulento de instrumentalização orquestrada de seres humanos postos em perigo para fins políticos.

O regime do Presidente bielorrusso tem sido acusado de violações contra a liberdade dos cidadãos, dos seus opositores e da imprensa, e a UE tem reagido com fortes sanções. Neste momento, se a União Europeia decidir impor sanções contra a Bielorrússia, este regime, com o apoio da Rússia, pode cortar, como já ameaçou, o fornecimento de gás à Europa. Numa altura em que se vive uma crise energética, a economia é uma variável significativa neste conflito.

Mas Bruxelas já garantiu que vai avançar com novas sanções. A União Europeia tem contactado os diferentes países do Médio Oriente para os convencer a impedir que as pessoas embarquem em aviões com destino a Minsk. Os iraquianos, sírios e iemenitas deixaram de poder voar para a Bielorrússia a partir da Turquia, por exemplo.

O Governo polaco está em alerta em relação à possível chegada em massa de mais migrantes à fronteira com a Bielorrússia. A Polónia já tinha declarado em setembro estado de emergência em duas províncias da fronteira com a Bielorrússia para conter o fluxo de imigrantes irregulares, por ação direta do Presidente bielorrusso, que ordenou a emissão de vistos. E esta crise está longe de terminar, com países como a Lituânia e a Letónia a reforçarem as suas fronteiras também naquela região.

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