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A presidente da Comissão Europeia insurgiu-se este terça-feira contra as "falsas expectativas" sobre a possível aprovação de um sexto pacote de sanções contra Moscovo, bloqueado pela Hungria devido ao embargo de petróleo russo, durante a cimeira da próxima semana.
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Ursula von der Leyen salientou que ainda estão a ser discutidos temas "técnicos" para tentar mudar a postura da Hungria - a decisão requer unanimidade -, segundo explicou, acrescentando que "não é um tema apropriado para ser resolvido no Conselho Europeu" extraordinário a decorrer na próxima segunda e terça-feira.
Em declarações ao meio de comunicação europeu Politico, durante o Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, disse tratarem-se de "países sem litoral que precisam de um fornecimento alternativo através de oleodutos, pelo que há que falar de investimento nem oleodutos para aumentar o fornecimento", de "refinarias que têm de ser modernizadas e de investimento e energias renováveis".
O jornalista João Francisco Guerreiro destaca os pontos principais desta entrevista.
Contudo, apontou que "há um elemento político que poderia discutir-se, ou seja, quanto os outros 26 (Estados-membros da União Europeia) estão dispostos a conceder como investimento à Hungria, mas as principais dificuldades são técnicas" e estão a ser "discutidas agora", acrescentou.
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Para adaptar os oleodutos e refinarias húngaras e de outros países para deixarem de depender de petróleo russo, a Comissão Europeia ofereceu-se a investir 2.000 milhões de euros em infraestruturas nesses países, dos quais "algumas centenas de milhões" iriam para Budapeste, segundo fontes europeias.
As declarações de von der Leyen coincidem com o envio de uma carta do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na qual excluiu a possibilidade de discutir o embargo proposto ao petróleo russo na cimeira europeia da próxima semana, uma vez que o húngaro acredita ser necessário conhecer mais detalhes acerca dos apoios ao seu país.
O problema do PRR
Ana Santos Pinto, professora da Universidade Nova de Lisboa, considera que Ursula Von der Leyen e a União Europeia estão a seguir a estratégia possível perante um acordo que parece difícil de alcançar.
"Se se percebe à partida que não será alcançado um acordo relativo às sanções e à aplicação deste embargo gradual, então mais vale deixá-lo claro para depois não se dizer que foi feito um esforço e essa negociação não foi concluída", explica. A carta de Órban será, assim, uma forma de tentar evitar que a Hungria coloque "o veto de forma clara e evidente na mesa do Conselho".
Ana Santos Pinto explica do que está dependente o financiamento.
Para Ana Santos Pinto, a base do problema está na falta de aprovação do Plano de Recuperação de Resiliência (PRR) da Hungria, que ajudaria a financiar a mudança do sistema petrolífero húngaro, neste momento dependente da Rússia. "Boa parte deste financiamento vem dos PRR", assinala, um mecanismo que no caso da Hungria não está fechado "por causa do processo de alegadas violações aos princípios do Estado de Direito", impedindo o acesso aos dinheiros europeus.
O acordo dependerá, agora, "do financiamento e do tempo", dado que a "reconversão de infraestruturas não se faz em meia dúzia de meses" e pode demorar mais do que em países que, tendo litoral, "podem receber petróleo ou gás liquefeito através dos seus próprios postos".