As greves na educação a que temos assistido ao longo dos últimos meses e que, agora, ameaçam continuar por mais uns quantos, até ao fim do ano letivo, não são já, apenas e só, manifestações legítimas de protesto por melhores condições de trabalho, progressões na carreira, revisão dos métodos de colocação dos docentes e, em geral, "respeito" pela profissão.
Transformaram-se, ao mesmo tempo, num confronto violento entre as velhas e conservadoras centrais sindicais e os novos, pequenos e independentes sindicatos.
Basta olhar para o calendário das greves das últimas semanas para se perceber que há todo um cardápio de manifestações, paralisações, convocatórias, pré-avisos e avisos. Ora há paralisação por distritos, da FENPROF e de outros sete sindicatos, ora greve ao primeiro tempo letivo de cada docente - ou ao tempo letivo que mais lhe convier, ou aos tempos letivos todos - ora há greves de três dias, quarta, quinta e sexta de um qualquer sindicato menos conhecido, mas que tem «independente» no nome e que, por isso, está fora do radar das duas grandes centrais sindicais.
Uma das maiores manifestações de professores de sempre foi no tempo do Governo de Sócrates. Ele estava de visita a Cabo Verde e, em Lisboa, desfilavam milhares e milhares de professores numa contestação nunca vista. Se formos a essa época, as reivindicações são, particamente, as mesmas. Os pequenos sindicatos, os mais radicais ou, como agora gostam de dizer, "inorgânicos", mais vocais e espalhafatosos, sem grande vontade de negociar, apenas de impor, vieram complicar a vida às FNEs e FENPROFs desta vida. O sindicalismo «tradicional» também precisa de uma reforma. Mas o «novo sindicalismo», anárquico e sem regras, não é a solução. Um sindicalismo moderno e de boa fé deve, antes de mais, estar disposto a negociar. E a negociação implica, pelo menos, duas partes. As duas terão de ceder nalguma coisa para que o encontro de posições se possa fazer.
O problema de centrais sindicais (UGT, mais PS e PSD, CGTP, ligada ao PCP) ou sindicatos ideológicos (tribunícios, "revolucionários", uma espécie de corrente do BE na versão sindicalista) é que acabam a digladiar-se na praça, mudando o foco da luta dos professores para a disputa entre sindicalistas. A unicidade sindical é algo que esteve para acontecer, mas que nem no PREC acabaria por vingar, mas a unidade sindical, em determinadas lutas, era fundamental, não só para reforçar o protesto, como para que as soluções que estão em cima da mesa fossem discutidas «em coletivo» e não em pequenas fatias.
O Professor Marcelo já avisou: cuidado, porque mais tarde ou mais cedo a «opinião pública» pode deixar de estar ao lado dos professores, quando achar que a greve, as greves, a desregulação delas, os efeitos que provocam são, afinal, desproporcionais às reivindicações.
Quando o governo já descongelou carreiras, já reduziu o número de quilómetros de professores de casa às costas, já abriu portas a que mais docentes subam de escalão, já prometeu métodos de vinculação mais rápidos e mais justos, há um lado da mesa que, pouco ou muito - e nestes casos citados, parecem avanços no bom sentido - tem propostas. Do outro lado da mesa, e enquanto
os sindicalistas discutem quem convida quem para que manifestação, se as devem fazer em conjunto ou em separado, se as greves gerais devem ou não ser marcadas, os não professores - a sociedade em geral, diga-se - olham para o estado da arte e não conseguem ver solução.