Além de Marcelo, quem ganhou as eleições?

Às vezes as contas eleitorais medidas em percentagem não esclarecem tudo.

Vamos lá experimentar contar os números de votos das presidenciais desta semana.

O vencedor absoluto das eleições foi a abstenção: não votaram seis milhões e 530 mil portugueses e só votaram 4 milhões 261 mil.

Marcelo Rebelo de Sousa foi o candidato mais votado: mais de 2 milhões e 500 mil votos.

Ana Gomes ficou muito longe: apenas 541 mil votos.

André Ventura conseguiu 496 mil votos.

João Ferreira recebeu 180 mil votos.

Marisa Matias teve 164 mil votos.

Tiago Mayan alcançou 134 mil votos

Vitorino Silva fechou a conta com 122 mil votos.

Os votos brancos foram mais de 47 mil e os nulos quase 40 mil.

Em relação às eleições presidenciais anteriores, Marcelo ganhou pouco mais de 100 mil votos, mas Sampaio da Nóvoa, que ficara em segundo, teve mais 460 mil votos do que Ana Gomes, mais ou menos da mesma área política, conseguiu agora.

Marisa Matias perdeu 300 mil votos e João Ferreira perdeu cerca de dois mil votos para a candidatura similar de Edgar Silva.

Até Vitorino Silva perdeu, de uma eleição para a outra, 30 mil votos.

Ana Gomes, nestas eleições, não conseguiu chegar nem de perto nem de longe aos votos de Sampaio da Nóvoa. Note-se que Ana Gomes queixou-se de não ter o apoio do PS, mas este partido apresentou-se dividido em 2016, tal como se dividiu nesta eleição. Parte do PS votou Sampaio da Nóvoa e outra parte em Maria de Belém, que angariou 196 mil votos.

A esquerda, em 2016, somou com as candidaturas de Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias, Maria de Belém e Edgar Silva, 1 milhão 908 mil votos. Em 2021, com Ana Gomes, João Ferreira e Marisa Matias somou apenas 885 mil.

Em 2016, se tirarmos Marcelo e os candidatos da esquerda da contagem dos votos válidos, sobraram 312 mil votos. Agora sobraram 631 mil, mais do dobro.

Destes votos, a maioria parece ter ido para André Ventura, sobrando 135 mil. Estes parecem quase todos entregues a Tiago Mayan.

Como Marcelo cresceu de uma eleição para a outra, isso quer dizer que ganhou à esquerda os 312 mil votos que perdeu para a direita e ainda conseguiu mais 100 mil, ou seja, um total de 412 mil pessoas, que votaram à esquerda em 2016, votaram agora em Marcelo.

Se estas pessoas tivessem votado nos candidatos da esquerda, este bloco ideológico chegava ao milhão e 300 mil votos. Mesmo assim perdia 600 mil votos para 2016.

O desvio de votos para Marcelo ajuda a justificar parte das perdas à esquerda nesta eleição. Além desse desvio, Ana Gomes não alcançou o resultado de Sampaio da Nóvoa (se o tivesse feito, a esquerda teria obtido mais 520 mil votos), a que se juntou a quebra de 300 mil votos de Marisa e a falta de 196 mil votos que Maria de Belém conseguiu em 2016.

Para além de perder votantes para Marcelo, para onde mais perdeu a esquerda? Para a direita?... Uns 200 mil votos sim, mas os restantes 400 mil foram perdidos para a abstenção.

Resumindo:

Marcelo é vencedor não só por ter ganho as eleições, mas por ter reforçado, embora pouco, o número de votantes.

Ana Gomes tem uma vitória de Pirro: embora tenha conseguido ficar à frente de André Ventura, tem quase metade dos votos que Sampaio da Nóvoa teve em 2016.

André Ventura tem uma vitória porque afirmou o seu partido e porque ajuda à subida da votação global na direita.

João Ferreira iguala o resultado anterior de Edgar Silva. Não ganha, nem perde.

Marisa Matias perde muito de uma eleição para a outra, é uma das maiores derrotadas da noite eleitoral.

Tiago Mayan também tem uma vitória com características qualitativas semelhantes às de Ventura, embora com uma expressão quantitativa muito, muito inferior.

E Vitorino Silva perde um pouco, mas excede as expectativas.

Quem pode cantar vitória, portanto, para além de Marcelo, são André Ventura e Tiago Mayan.

Isto é bom para a direita portuguesa? Bem, não é nada bom para PSD e CDS, os partidos que até agora dominaram a direita portuguesa, e que não apoiaram nem Ventura nem Mayan - e Marcelo, toda a gente percebeu, não precisava nem do PSD nem do CDS para ganhar estas eleições.

Conclusão? A esquerda teve um resultado péssimo nestas eleições, mas a direita sai delas toda esfrangalhada.

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