"As conversas de Costa imortalizadas na Operação Influencer." Faço uma vénia ao jornalista que fez este título no último número da revista Sábado, sobre as relevantes escutas do Ministério Público a António Costa, então primeiro-ministro. Não me interpretem mal, não é ironia. Não aprecio que matem o mensageiro, seja de forma literal, como antigamente, seja de forma metafórica, como pretende o Ministério Público, que, à falta de melhor, ou, se calhar, para enganar os papalvos, avançou com uma participação criminal contra os jornalistas.
Ouça aqui a opinião de Rafael Barbosa
Decisão admirável e corajosa. Para quê tentar descobrir o autor do crime de violação do segredo de justiça, quando se tem, à mão de semear, um alvo mais fácil de atingir? Às tantas, para chegar à verdade, os procuradores teriam de se escutar uns aos outros. E sabe-se lá o abalo sísmico que isso poderia causar. Escutar, por escutar, que seja um primeiro-ministro, e um dia, talvez, até um Presidente da República. Eu, se estivesse no lugar de Marcelo Rebelo de Sousa, pedia uma fatura detalhada do telemóvel, para ver se, por acaso, algum destes dias esteve à conversa com Matos Fernandes, João Galamba ou Diogo Lacerda Machado e também lhes confessou que estava com Covid.
Mas voltemos ao que interessa, às escutas feitas a mando do Ministério Público. Por exemplo, António Costa perguntou a Matos Fernandes se teria tempo para tomar um café antes das 17h30. E não é que o ministro foi logo a correr, com o rabinho entre as pernas? E que dizer do facto deste mesmo ministro constatar que a resina se desenvolve no Interior do país? É caso para gerar indignação, uma vez que, à data dos factos, o pinhal de Leiria ainda não tinha sido reduzido a cinzas. E como qualificar a mulher de João Galamba, sugerindo que poderiam estar sob escuta, insultando quem estava lá do outro lado da linha, por ser um badocha ou um PIDE?
Mas há situações ainda mais aterradoras nas escutas. Afirma e pergunta António Costa a Matos Fernandes, através de um SMS: "Está com um ar tristonho, Chelsea, amores ou política?" Há aqui um indício de crime grave, de acordo com o código penal da Santa Inquisição que, ao que parece, ainda hoje serve de guia ao Ministério Público: um adultério, cometido numa mansão de Chelsea, o bairro dos ricos de Londres, à custa do erário público, com Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido naquela altura.
Finalmente, e para terminar com chave de ouro, destaco a escuta em que o primeiro-ministro revela que está posicionado em Chaves, enquanto o ministro afirma estar em Marselha. Infelizmente, já não me sobra tempo para teorizar sobre o facto de Costa descrever João Galamba como "um gajo completamente maluco". Note-se que isto foi dito antes de o ex-ministro ter ido à rua, em pijama, passear o cão, um comportamento suspeito rapidamente denunciado pelas câmaras da CMTV.
Perante tudo isto, não sei quem será capaz de pôr o país na ordem. Mas suspeito que alguns procuradores têm uma ou outra ideia radical sobre o assunto. Não digo quais, que eles estão sempre à escuta.
