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Já cá faltava. Quatro anos depois, o diabo voltou às campanhas eleitorais e, desta vez, deixou de ser um exclusivo do centro-direita. O centro-esquerda decidiu adotar o belzebu, que isto, nestas coisas, nunca se sabe: mais vale tê-lo pela frente do que pelas costas.
Pode até ser um reflexo das sondagens , mas, ao quarto dia de campanha, António Costa decidiu dramatizar um pouco o discurso . E o silogismo é relativamente simples de explicar: se o PSD e o CDS representam o diabo, votar nestes dois partidos é andar para trás, logo, o melhor mesmo é votar no PS. Palavra do irritantemente otimista, que o secretário-geral do PS não só já se habituou ao "título" dado pelo Presidente Marcelo, como já o utiliza em seu favor. O Miguel Midões e a Inês André Figueiredo contam-lhe como foi.
Quem também carregou nas tintas foi Jerónimo de Sousa. Na caravana comunista, em Gaia, acenou-se com o "papão" do centro-direita e com o "risco bem real" de andar para trás. Claro que também se reivindicaram os méritos dos últimos quatro anos de geringonça, mas, em tempo de guerra, não se limpam armas, e se os outros podem fazê-lo, porque é que a CDU não pode?
Só mais um diabinho, para acamar: o Bloco, que não pronuncia o nome do dito cujo, opta por metáforas. "Precariedade é medo" , grita Catarina Martins, que esteve em Quarteira, ali bem ao lado de António Costa, o parceiro de geringonça com quem esta semana andou a lavar roupa suja.
"Se cair, caio de pé"
Era o soundbyte que faltava nesta campanha. Rui Rio, o político que enfrenta tudo e todos, andou pelo Alentejo, meteu uma capa de estudante aos ombros, cantou, dançou e deixou uma promessa aos críticos: se cair, cai de pé e não dobra . O Filipe Santa Bárbara e a Carolina Rico contam-lhe como foi e explicam-lhe como é que o Toy - sim o Toy - aparece na campanha do PSD.
De facto, o diabo tem muitas faces. E se, à esquerda, ele tem cara de Rui Rio e Assunção Cristas, no centro-direita ele é mesmo parecido com António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. Depois de Nuno Melo ter aparecido na campanha centrista a ameaçar com o fim da liberdade de imprensa, da democracia e do ar puro - sim, leu bem -, agora foi Pedro Mota Soares a ressuscitar o PREC para assustar mais um bocadinho o eleitorado que esteja a pensar votar à esquerda. A Raquel de Melo esteve lá e ainda ouviu os centristas puxarem Marcelo Rebelo de Sousa para a campanha.
Ah, Paulo Portas está a caminho para dar uma ajuda a Assunção Cristas.
Hipócritas
Rui Rio voltou a ser Rui Rio. Convidado do Fórum TSF, o líder do PSD abriu o livro e disparou em várias direções. Mas fez mira certeira, sobretudo, aos críticos internos que, nos últimos dias, têm feito fila para aparecer na campanha. Não ao lado de Rui Rio - o que seria! -, mas de Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD e cabeça de lista por Leiria. De Teresa Morais a Hugo Soares, passando por Aguiar Branco, José Eduardo Martins, Jorge Moreira da Silva e, até, Marques Mendes, uma mão já não chega para os contar a todos.
Claro que tanto convidado indesejado começou a deixar a direção social-democrata um pouco indisposta. E Rio não se coibiu de lhes chamar hipócritas , no Fórum TSF desta quarta-feira.
O Pedro Marques Lopes e o Pedro Adão e Silva já esmiuçaram isto tudo, no Bloco Central . Esta quinta-feira, é a vez de André Silva ir ao Fórum TSF. Se tiver perguntas para o líder do PAN, é ligar para o Manuel Acácio.
Marcelo e Tancos na campanha
Pode parecer estranho, mas aconteceu. O caso Tancos chegou à campanha das legislativas. Como diria o outro: isto anda tudo ligado. A história começa com Marcelo Rebelo de Sousa a reagir a uma notícia que o envolvia no caso do roubo das armas do paiol militar e daí até chegar às várias caravanas partidárias foi um tirinho.
O tema queima e, por isso, quase todos os partidos quiseram sacudir Tancos desta campanha. Quase todos. Porque André Ventura viu logo ali um filão político.
Despeço-me com amizade, não sem antes aconselhar que ouça este filme sonoro da campanha , engenho e arte do João Félix Pereira.
Tenha um ótimo dia.