Imagine-se dono de um grande e próspero terreno. De um dia para o outro, sem aviso, um vizinho apoderava-se de uma parcela significativa, seguia-se uma disputa dura e, anos depois, a solução para o problema determinava que o infrator passasse a ser o proprietário de uns bons hectares. Já todos ouvimos falar de situações destas terem sido resolvidas com uma sachola, mas neste novo mundo são os diplomatas de fato sombrio que tratam da questão, cedência atrás de cedência com benefício do invasor. Se pensarmos nos milhares de vítimas, nem Rússia nem Ucrânia ganham com a guerra, mas no plano do conflito militar o regime de Putin será o único vencedor. Ao arrepio do direito internacional e com a bênção dos Estados Unidos.
Depois do que aconteceu na Palestina, às tantas até começamos a deixar de ter razões para ficarmos admirados com a imposição da lei do mais forte em detrimento das resoluções das Nações Unidas. E se pensarmos que estamos na iminência de uma incursão bélica dos Estados Unidos em território da Venezuela, fica claro como a água que o mundo mudou demasiado depressa desde a ascensão de Donald Trump ao poder.
O plutocrata que lidera a maior potência global legitima tudo, desde que obtenha ganhos económicos ou influência. A administração Trump não será a primeira norte-americana a dar respaldo a ditaduras sanguinárias, mas apesar de tudo a Europa sempre teve do outro lado do Atlântico um forte aliado na construção de uma sociedade liberal capaz de gerar valor e bem-estar. Esse tempo acabou. Impera agora uma espécie de bullying diplomático que há de conduzir ao fim do conflito na Ucrânia.
O processo para chegar à paz, está bom de ver, é um péssimo exemplo, de consequências imprevisíveis, porque além de privilegiar o sucesso do invasor ainda abre caminho a outros com ambições expansionistas. Antes à sacholada.
