Quem gosta de números poderá dizer que estes são pequenos. Os fundos de apoio social das universidades são curtos no alcance, com verbas capazes de apoiar apenas algumas dezenas de alunos. Fornecem as verbas possíveis para ajudar a pagar alimentação, alojamento ou equipamento informático. Isto quando as bolsas não chegam e os estudantes precisam de todos os recursos ao alcance para conseguirem manter-se no ensino superior. Na ronda pelas principais universidades do país, as respostas convergem para a mesma conclusão e dão conta de um aumento nos pedidos de ajuda, ainda que sem fácil tradução estatística ou quantitativa.
Todas as semanas surgem indicadores como este a mostrar as dificuldades sentidas por tantos portugueses. Aqueles para quem é difícil colocar comida sobre a mesa, pagar as contas no fim do mês, assegurar a educação dos filhos, aviar receitas na farmácia. Os que sentem à flor da pele os efeitos da guerra e da inflação, mesmo que as contas gerais do Estado até pareçam equilibradas.
O Conselho das Finanças Públicas reconheceu ontem que a incerteza continua a dominar as previsões económicas para este ano, mas afastou o cenário de recessão. A economia abrandou, como já se esperava, mas deverá ainda assim crescer 1,2%. O défice deverá ficar em 0,6% do PIB. Além da guerra e da inflação, a fraca execução do Plano de Recuperação e Resiliência é um dos riscos a pairar sobre as contas públicas. Outro é o crescimento das tensões sociais e laborais. Ou seja, a necessidade de mais apoios e a forte pressão nalguns setores públicos afetados por greves e protestos podem obrigar a decisões políticas com impacto orçamental.
Diz o Conselho de Finanças Públicas que a rota da estabilidade será essencial para manter a credibilidade do país e a contenção da tão elevada dívida pública. Ou, como não se cansa de repetir o Governo, a política das contas certas será o caminho para que continuemos a merecer a confiança dos sacrossantos mercados e a melhorar a notação de risco.
Acontece que o Estado tem vindo a arrecadar receita adicional na sequência da inflação. E faz todo o sentido olhar para essa verba e canalizá-la para medidas sociais, que atenuem os efeitos da crise junto dos mais fragilizados. Até se compreende a preocupação com o equilíbrio da balança das contas públicas, mas não se aceita que o contexto adverso em nada abrande ou altere o ritmo de diminuição da dívida ou de regresso a excedentes.
Não haverá contas certas enquanto a vida de uma grande parte da população estiver tão errada. Enquanto um estudante for obrigado a deixar a universidade por falta de condições financeiras. Ou enquanto os serviços públicos continuarem a degradar-se e a perder recursos humanos. As escolhas são difíceis, mas cabe ao Governo estudar minuciosamente como chegar às pessoas, nem que para isso tenha de abdicar algumas décimas nas metas orçamentais.