O Ministro Finanças, no calor das respostas a uma entrevista, afirmou que "O SNS hoje é melhor do que em 2015, não tenho nenhuma dúvida sobre isto". Mas o que quer dizer exatamente um SNS melhor? Em particular, em que pensava o Ministro das Finanças, e, por outro lado, qual o critério para se poder dizer que o SNS está melhor ou pior?
Sobre a primeira parte, outras afirmações de Mário Centeno esclarecem. Para Mário Centeno, se aumentou o orçamento para o SNS, se aumentou o número de profissionais de saúde empregues pelo SNS, este tem que estar melhor. A implicação parece natural. Só que existem algumas cautelas a ter - o SNS recebeu maior orçamento, mas também houve reposição de salários. Contratou mais pessoas, mas precisava de o fazer para compensar a redução das 40 horas semanais de trabalho para as 35 horas. Até podia ter aumentado a despesa no SNS e o número de profissionais e ter-se reduzido a capacidade deste em atender às necessidades das pessoas.
Mas mesmo que tenham aumentado o número de profissionais de saúde, não significa que automaticamente o SNS funcione melhor. Sobretudo se também há mais para fazer para melhorar a saúde das pessoas, ou se não está a fazer o que é mais útil para esse fim.
Usando informação que esteja facilmente acessível, o que podemos dizer? Como não há dados referentes a 2019, estamos ainda a metade do ano, e como pouco se sabe estatisticamente sobre 2018, a base de informação é muito insuficiente.
Mas não será difícil, por escolha do aspeto que se queira destacar, encontrar confirmação ou desmentir a afirmação de Mário Centeno.
Se escolhermos olhar para ter-se um médico de família atribuído, encontramos uma evolução favorável nos últimos anos, mesmo que não se tenha atingido o objetivo principal de ter todos os residentes em Portugal a serem acompanhados regularmente por um médico de família - o SNS está melhor; mas se escolhermos antes olhar para os tempos de espera para cirurgia, e para a percentagem de casos que são resolvidos dentro do tempo máximo garantido, o SNS está pior e o ministro não tem razão. (os dados que suportam estas afirmações estão disponíveis no portal da transparência do SNS).
Se pensarmos em aspetos menos técnicos, e olharmos para a opinião pública sobre a sua experiência pessoal com o SNS, encontramos respostas muito diversas. Também para os trabalhadores do SNS, nas suas diferentes profissões, não é claro que o SNS de 2019 seja melhor que o de 2015 em termos de condições de trabalho (e não apenas salários). Os vários conflitos existentes surgem bem mais acesos nos dias de hoje.
Olhando para a gestão financeira, e para a despesa, para o ritmo de crescimento dos pagamentos em atraso, ainda não é em 2019 que se está melhor do que em 2015.
Apesar da afirmação em tom categórico do Ministro das Finanças, não seria mau ter uma avaliação séria sobre o que se evoluiu no SNS nesta legislatura, para que não se fique unicamente pela convicção expressa em écran televisivo.