Bom dia a todos,
As manifestações dos professores têm marcado a agenda mediática das últimas semanas. Uma forte adesão, novos modelos de greve e a forte cobertura noticiosa, dão-nos a entender que a paz social do nosso país chegou ao fim.
Neste contexto, há uma pergunta que se impõe: essa paz chegou a existir nos últimos sete anos ou pura e simplesmente foi fabricada pela Geringonça? Pessoalmente, não tenho dúvidas de que o que aconteceu foi a clara demissão da função social por parte dos sindicatos, em especial dos afetos ao Partido Comunista Português.
As legítimas revindicações dos professores para negociar melhores condições para a sua carreira não são novas. Não têm um ano, apenas passaram a ser audíveis.
Apesar dos professores estarem na rua e de todos os constrangimentos que daí advêm, é de notar que a generalidade da população está solidária com eles. Temos simpatia, agradecemos tudo aquilo que nos deram, admiramos a sua dedicação, mas também porque, nosso âmago, intuímos e tememos a decadência da Educação no nosso país.
Num país pobre como Portugal, em que 43,3% dos portugueses se encontra em risco de pobreza, antes das transferências sociais do Estado, e em que a OCDE identifica serem necessárias cinco gerações para que seja quebrado o ciclo de pobreza, temos o ensino público desfeito. A maior ferramenta para potenciar a mobilidade social, está completamente enferrujada.
Ignorar a realidade do ensino português é aceitar que milhares de crianças do nosso País estão geneticamente amaldiçoadas com a pobreza. Se nascem pobres, muito provavelmente continuarão pobres o resto da vida.
O caminho socialista do facilitismo, a perda de autoridade dos professores na escola pública e a escolha de uma estratégia errada, levou a que as clivagens entre o sucesso das aprendizagens - quando comparamos público e privado - sejam hoje uma realidade mais que espelhada nos rankings nacionais.
Sejamos claros, hoje os pais que têm possibilidade económica para escolher, optam sem sequer pensar, pelo ensino privado. Esta é a realidade. E não o escolhem por a comida no refeitório ser de melhor ou de pior qualidade. Não o escolhem pelo estado de conservação do mobiliário ou pelas grandes salas de aula. Escolhem com base na mais básica função do ensino: a qualidade da aprendizagem. Se os filhos aprendem ou não aprendem.
Este Governo, com a sua inércia e falta de pragmatismo reformista, e tal como acontece na saúde, "empurra" os portugueses para o privado Não é uma questão de escolha, é, novamente, por falta de verdadeira opção.
Hoje, no Portugal do século XXI, o dinheiro é determinante para o futuro dos nossos filhos. As oportunidades têm um preço. O futuro parece estar tabelado. E, friamente, a maioria dos portugueses não têm dinheiro para o pagar.
Sou um filho da escola pública e nunca me senti diminuído ou menos preparado por isso. Tive colegas, dos quais mantenho amigos, com diferentes capacidades financeiras e vindos de diversos enquadramentos sociais. Nunca foi isso que nos travou. O que sempre ditou o nosso sucesso foi o esforço e a dedicação, nunca a carteira dos nossos pais. E desculpem, mas não aceito que Portugal que seja de outra maneira.
Até para a semana.