Futebol e Patrocínios Ditatoriais

Por este mundo fora temos dois continentes mergulhados no futebol e tendo em conta que estamos a falar do Campeonato Europeu e da Copa América, que são, sem dúvida, os melhores campeonatos regionais, estamos mesmo a falar de dois eventos desportivos com um alcance global.

Desde logo, temos um Campeonato Europeu bem diferente: espalhado por várias cidades tão diversas quanto Roma, que acolheu o jogo inaugural, passando por Baku no Azerbaijão, Copenhaga na Dinamarca, Munique na Alemanha e outras tantas, terminando em Inglaterra e mais concretamente naquele que é, sem dúvida, um dos grandes estádios da Europa: Wembley.

Confesso que estranhei e muito este formato, mas, se o objetivo for o de demonstrar o quão transversal é o futebol nos vários países que pertencem à UEFA, então a aposta parece ganha. Enquanto ia vendo os jogos lembrei-me várias vezes de uma citação de David Goldblatt, um dos grandes estudiosos do futebol, e mais especificamente do seu livro cujo título podemos traduzir como «A Bola é Redonda, Uma História Global do Futebol». As suas palavras vão bem ao encontro deste momento que vivemos: "A UEFA não só foi mais rápida do que a NATO e a União Europeia na sua expansão pela Europa fora, como o fez com mais sucesso sendo capaz de congregar o poder potencial que resulta de um continente unido." Estas palavras foram escritas em 2007 e, portanto, bem antes deste Euro, mas eu diria que agora fazem ainda mais sentido.

A criação de uma identidade e de um espírito futebolístico foi bem conseguida pela UEFA. Aliás, desde logo, o seu entendimento geográfico é bem mais abrangente (um pouco como o registo da Eurovisão) e inclui por exemplo a Turquia, a Rússia ou o Azerbaijão. Se pensarmos na União Europeia estes países levantariam vários sobrolhos e seriam mesmo ser considerados entradas impossíveis se tivermos em conta os regimes políticos e a falta de democracia e de direitos humanos desta Turquia de Erdogan, da Rússia de Putin ou do Azerbaijão dos Aliyev.

Mas, enquanto ia vendo os jogos, também ia reparando nos patrocínios e aqui entramos numa dimensão bem mais problemática. Dos doze patrocinadores oficiais deste Euro se virmos bem metade são empresas de regimes ditatoriais como é o caso da russa Gazprom, da Qatar Airways e das chinesas Alipay do grupo Alibaba, Hisense, a Vivo ou a Tik Tok, que operam sob a égide do «Leninismo de Mercado» para usar a expressão de Richard McGregor que tão bem descreve a relação de supremacia do Partido Comunista da China face à economia daquela que é a maior ditadura do mundo.

E esta é uma amostra de um lado do futebol que é cada vez mais evidente, cada vez mais manifesto e que a mim me preocupa muito dentro e para lá dos relvados.

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