Amanhã, segunda-feira, pelas 10h da manhã os 13 marinheiros, que se recusaram a embarcar no navio de patrulha oceânica Mondego, vão ser ouvidos pela Polícia Judiciária Militar. Em causa poderá estar a divulgação de informação militar classificada, como o estado em que se encontrava o navio, e que foi divulgada nas redes sociais.
O comandante naval e o comandante do navio terão concluído que a missão era realizável em segurança, os 13 sargentos e praças acharam que não. Assim, o Almirante Gouveia e Melo foi confrontado com uma desobediência grave de profissionais da Marinha.
Por mais que os portugueses entendam as preocupações de sargentos e praças em relação ao estado lamentável da Armada -, realidade transversal às últimas décadas e que foi herdada pelo Almirante -, não podem compreender nem desculpar uma insurreição desta dimensão. Se há instituição em que os portugueses têm confiado ao longo da história, é precisamente nas Forças Armadas, como um todo.
Recusaram embarcar no patrulhão Mondego 13 amotinados. Deveriam ter seguido um navio russo ao largo da ilha de Porto Santo, Madeira. Os militares russos não vieram certamente fazer turismo, comer bolo do caco ou beber uma poncha de maracujá no Porto Santo! Suspeitas há de que possam ter medido, analisado e localizado os cabos submarinos de telecomunicações, um ativo estratégico para o país e para o continente europeu.
Com um motor ativo, ir no Mondego desde o Funchal ao Porto Santo não seria uma missão digna para um James Bond numa película de 007. Não se tratava de uma missão de vida ou de morte e havia uma ordem para cumprir. Mas os militares ficaram em terra.
Nenhum patriota está satisfeito com o estado da esquadra, o Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) também não, como aliás reafirmou. A própria ministra da Defesa, Helena Carreiras, na semana passada e em entrevista ao DN e TSF, disse que, finalmente, a Lei da Programação Militar vai ter um reforço de dois dígitos e que a prioridade é a manutenção dos equipamentos, a sua modernização e reforço tecnológico.
Qualquer investimento anunciado não produzirá efeitos imediatos, mas é um bom ponto de partida para tirar a Armada do estaleiro do Alfeite. Corvetas, fragatas, submarinos precisam de peças e parafusos, mas também de tecnologia e de meios humanos.
Com uma guerra a decorrer em plena Europa - e o envio de aviões por parte da Polónia e a Eslováquia vai aumentar a escalada do conflito - , é tempo de reforçar a aposta estratégica num dos braços da soberania, as Forças Armadas. Mas não é tempo de dizer "não" a missões militares. Por isso, e pelos valores que regem as Forças Armadas, a punição parece inevitável e será uma espécie de vacina anti-pandemia do motim que fará, certamente, jurisprudência. Em tempo de guerra não se limpam as armas, ou, por outras palavras, não é hora de embarcar em fações, é hora de reunião e de renovado espírito de corpo.