Só no meu tempo de vida já perdi a conta à quantidade de crises na banca em que foi preciso rebobinar o sistema financeiro implicando com a vida de centenas de milhões de pessoas. Na vida muda muita coisa, mas há uma que se mantém inalterável: na bonança os banqueiros enriquecem, nas crises os contribuintes empobrecem.
Podemos ser muito imaginativos e fazer de conta que as soluções são diferentes. Deixar bancos falir, impor-lhes uma resolução, dividi-los em bom e mau, nacionalizá-los, vendê-los por um euro, salvar os depositantes, qualquer que seja o caminho, implica chamar os contribuintes a contribuir com mais uma prestação de boa vontade. Normalmente, é-lhes explicado que não pagar aquela crise implica viver uma crise maior.
E, a cada queda de um banco, há sempre alguém habilitado a explicar-nos que não há nada de errado com o sistema. A má gestão é que levou àquele resultado, mesmo se essa má gestão tiver sido apresentada como excelente dias antes. Às vezes, até parece que os grandes acionistas dos bancos perdem dinheiro, porque nunca há tempo e espaço para recordar os milhões que receberam em dividendos, entre uma crise e outra, nem os milhões daquele banco com que financiaram outros negócios em que tinham interesses.
Reparem bem! Nós estamos no meio de mais uma tempestade pouco tempo depois dos executivos dos principais bancos aparecerem num cenário paradisíaco, apresentado lucros e prometendo dividendos milionários aos acionistas que lhe podem garantir a manutenção no lugar de topo que ocupam. Talvez não fosse má ideia, proibir a banca de distribuir dividendos enquanto a crise não passar.
Quando a máquina dos bancos centrais se põe a imprimir notas muito para lá da produção de riqueza efetiva, ficam os bancos os donos do dinheiro e são os seus donos que decidem onde se gasta. Depois chega a inflação e percebe-se que o dinheiro demasiado fácil é uma ilusão e acaba sempre por produzir pobreza.
Oxalá nos enganemos. Oxalá as vozes dos que repetem que está tudo bem e que o sistema não precisa de Estados mais fortes e mais reguladores tenham razão. Oxalá isto não cabe tudo como há cem anos, com ditadores a nascer como cogumelos.