As últimas semanas revelaram-se tumultuosas nas escolas públicas, cenário que, previsivelmente, não abrandará nos próximos dias, apesar do Colégio Arbitral ter fixado serviços mínimos, uma decisão relativamente invulgar no sistema educativo nacional, tal como não é normal a atipicidade das greves (mais do que uma o mesmo tempo...), a sua imprevisibilidade e a indeterminabilidade no que respeita à sua duração e ocorrência.
As sucessivas rondas negociais resultaram infrutíferas, descartadas, até à data, as premissas essenciais dos professores, inviabilizando, deste modo, a luz ao fundo do túnel, o almejado sinal de esperança, assaz vital para o regresso da paz e estabilidade ao contexto educativo público.
À tutela pede-se um gesto promissor comprometido para com as escolas, percebendo as justas reivindicações dos professores, algumas delas "empurradas com a barriga" pelos sucessivos governos, sobressaindo o desprezo como as trataram, recusando-se a cuidar da sua resolução, contribuindo, assim, para o avolumar da intensidade com que se apresentam atualmente.
E se é verdade que a divisão sindical, pese embora estas associações tenham estado reunidos e em sintonia na última sessão negocial, não favorece a contestação legítima dos representados, também é verdade que os professores estão mais unidos do que nunca, fazendo-se valer da genuinidade das suas demandas, que se traduz na enorme mais-valia da sua "luta".
E eis que assistimos a uma preocupação (?) que alguns, por estes dias, alevantam - a não realização de aprendizagens, que por merecer uma análise isolada e pouco rigorosa, se afigura um falso problema.
Tentando desvalorizar a situação real, de base, apontam a inexistência de aulas a certas disciplinas, em determinadas escolas e concelhos, desde o início do ano letivo (também em anos transatos), como causa determinante da questão, apontando o dedo ao Ministério da Educação, acusando-o de não promover a resolução da escassez de professores.
Certo é que enquanto as opiniões se multiplicam, com maior ou menor propriedade, continuam a ser aplicados os planos de recuperação das aprendizagens gizados por cada escola, atendendo às necessidades e exigências efetivas de cada comunidade educativa.
O Plano de Recuperação das Aprendizagens (PRA), encontrando-se no 2.º e último ano de aplicação, deverá merecer uma avaliação criteriosa e ajustada, pois sofreu inesperadas vicissitudes, desde logo em 2021/2022, devido às consequências da COVID-19. De então para cá, tenho reiterado a premência de se realizar uma avaliação intercalar quanto à sua
eficiência, no sentido de se compreender a relevância, ou não, de ser alargado no tempo, mantendo-se em vigor para além do final deste ano letivo.
Em alguns casos, a indefinição da atual conjuntura educativa não contribui para a normalidade que o processo ensino-aprendizagem impõe, e julgo abusivo, a roçar a falsidade hipócrita, a acusação oportunista daqueles que se lembram, só porque sim, de apontar o dedo à "luta" em questão.
As eventuais aprendizagens não realizadas por alguns alunos tem origem, em certos casos no processo de ensino e aprendizagem que teve de ser assumido remotamente, e não deve ser aproveitado o circunstancialismo do momento (embora com quase 2 meses no terreno!) para lembrar as dificuldades de que os professores são plenamente conhecedores, e tentam no seu dia a dia mitigar e ultrapassar, com os ónus e encargos que lhes colocam às costas.
A preocupação de todos deverá assumir-se verdadeira e honesta, no sentido de devolver a confiança, o reconhecimento e a expectativa de um amanhã mais sorridente aos professores, querendo acreditar naquela célebre frase que Marcelo Rebelo de Sousa disse, em setembro de 2018, aquando do arranque do ano letivo: "Eu, como professor, tenho a certeza que os professores de Portugal são dos melhores do mundo, porque têm esperança, porque transmitem essa esperança, porque olham para o futuro e porque estão disponíveis".