A economia em que vivemos só funciona se consumirmos mais, mais e mais. Conta com isso para crescer.
O Estado também ganha com o crescimento, pois quanto mais consumo, mais compras há e mais impostos são cobrados.
Quando há muita procura e poucos produtos, o preço sobe. É a inflação. E a única forma de acalmar a subida dos preços, é diminuir a procura. Por isso as taxas de juro a crescer, para dificultar o acesso ao dinheiro e assim tentar abrandar a procura e fazer os preços baixarem.
Só que enquanto sobem, muitas pessoas perdem, ainda que haja gente a ganhar também.
O governo disse que havia preços de produtos alimentares aumentados sem razão lógica e por isso havia supermercados a lucrar indevidamente com a inflação. Isso é verdade. Todos sabemos.
Um dos chefes das cadeias de supermercados reagiu indignado dizendo que o governo era mentiroso porque o governo é que ganhou com a inflação, arrecadando assim mais impostos. E em boa verdade esta semana o ministro das finanças mostrou resultados de um défice baixo, também à custa desses impostos extra.
Ninguém mentiu.
Nem o governo, nem o chefe dos supermercados.
Ganharam ambos com a alta de preços. Ficaram ambos mais ricos com a inflação, de bolsos cheios e com folgas.
Os que sofrem, são sempre os mesmos:
As famílias que dão lucros às cadeias de supermercado e impostos ao governo. A classe média que paga todos os impostos e mais alguns, enquanto vê nómadas digitais e outros ricos estrangeiros a viver em Portugal isentos de bastantes impostos.
Os que sofrem são sempre os pobres, que se mantém em trabalhos duros de salários baixos e que recebem uns subsídios que aliviam, mas não curam. Os pobres o que querem é deixar de o ser, é subir a escada da vida e saírem de uma vez da pobreza. Só que o trabalho para pouco lhes dá e os subsídios são meio degrau pequenino. Não capacitam ninguém.
Os direitos económicos e sociais - um importante grupo de direitos humanos - estão em amargura em Portugal e não se vê solução à vista para os problemas, não se veem políticas públicas que garantam desenvolvimento, crescimento estrutural, condições para criar riqueza, não se veem serviços de saúde e de educação de qualidade, não se vê ou pressente justiça fiscal e desenvolvimento económico diversificado.
Uma economia assim não serve. Falta-lhe o tempero de justiça e boa governança.