Demitiu-se por causa da nomeação do primo. Mas esta não foi a sua única polémica no Governo

Resistiu poucas horas à revelação de que tinha nomeado um primo para seu adjunto. Carlos Martins, até agora secretário de Estado do Ambiente, foi a primeira baixa na polémica das relações familiares no Governo.

A polémica que o fez cair não foi a única do seu currículo. O até agora Secretário de Estado do Ambiente foi por diversas vezes criticado pelos ambientalistas pela estratégia de gestão dos resíduos urbanos, que apostava na incineração em vez de optar pela reciclagem. Os críticos ameaçaram mesmo fazer queixa à Comissão Europeia. Mas Carlos Martins defendeu-se sempre: "Não queremos que a valorização energética faça perigar aquilo que são as nossas metas ambiciosas (...)."

A ambição deste Secretário de Estado, pelo menos neste Governo, vai ficar por aqui. Aguentou apenas um dia desde que estalou a polémica, apesar de inicialmente a Secretaria do Ambiente ter dado por resolvida a questão com o afastamento voluntário de Armando Alves, secretário adjunto, e seu primo - que foi aliás o motivo original da controvérsia. Carlos Martins nomeou este familiar como seu adjunto em setembro de 2016, mas esta nomeação passou despercebida. O primo do governante apresentou demissão esta quarta-feira e vai agora voltar ao seu lugar de origem: nos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Loures.

Com a demissão do próprio Carlos Martins, anunciada esta quinta-feira em comunicado e já aceite pelo chefe do Governo, passaram três anos e quatro meses desde que assumiu a pasta. Estava no Executivo desde a tomada de posse de António Costa.

Nascido em Lisboa em 1956, foi presidente executivo do Conselho de Administração da Águas do Algarve até 2015.

No site do Governo, Carlos Martins é apresentado como "professor especialista em engenharia sanitária do Instituto Politécnico de Lisboa", licenciado em Engenharia Civil e Mestre em Planeamento regional e urbano, pela Universidade Técnica de Lisboa. O secretário de Estado do Ambiente tem ainda uma pós-graduação em Direito da água e em Direito dos resíduos, pela Universidade de Lisboa, e um doutoramento em Administração Pública, pela Universidade de Lisboa.

Mas o currículo não fica por aqui. A governação de Carlos Martins ficou também marcada pela polémica da mudança de morada que lhe possibilitava receber uma quantia indevida como subsídio de alojamento. O secretário de Estado do Ambiente acabou, no entanto, por devolver os mais de 2.500 euros à Secretaria do Ambiente. Carlos Martins anunciou que tinha renunciado ao direito de receber o referido subsídio, "até termo das suas funções". Fê-lo "com a absoluta consciência da legalidade da atribuição do subsidio de alojamento" e justificava a sua renúncia com o facto de "este injusto caso" se estar a alastrar, "e com o objetivo de preservar a minha imagem, o bem-estar dos meus, e a normalidade do funcionamento do Ministério do Ambiente".

Os incêndios de Pedrógão Grande, no verão de 2017, e no centro do país, em outubro do mesmo ano, foram alguns dos revés do período em que esteve ao serviço como secretário de Estado. Graças aos fogos, Portugal abandonou o terceiro lugar da tabela europeia das energias renováveis. Entrevistado na altura pela TSF, Carlos Martins reconheceu que o cenário seria menos positivo em 2018, "uma vez que os incêndios acabaram por determinar maiores emissões de dióxido de carbono para a atmosfera" .

Na sua mais recente intervenção o ainda Secretário de Estado do Ambiente avançou com a Estratégia Nacional para a Utilização de Águas Residuais Tratadas e «com exemplos no terreno». Em declarações à agência de notícias Lusa, no Dia da Água a 22 de março, Carlos Martins relembrava então as metas do Governo para chegar a 2030 com, pelo menos, 20% por cento de utilização de águas residuais, provenientes de estações de tratamento. Referiu que a eficiência passa por não usar «água tão nobre como a da rede pública» para regar jardins, lavar ruas e contentores ou fazer a refrigeração industrial.

Sob a sua alçada, o Governo preparou ainda um guia prático sobre a utilização das águas residuais para potenciar novos utilizadores, como escolas ou empresas.

Carlos Martins não vai estar no Governo para acompanhar a sua execução.

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