A fábula é antiga mas ao ter sido revisitada este fim de semana pelo ministro Miguel Macedo tornou-se alimento de mais uma polémica. A TSF conversou, esta noite, com uma professora da Universidade Nova de Lisboa, que coordena o projeto "A Fábula", que assinalou alguma ambiguidade na história da Cigarra e da Formiga.
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Comecemos pelo princípio. No domingo, na inauguração de um quartel de bombeiros em Vouzela, o ministro da Administração Interna tratou de fazer pedagogia, afirmando que «nestes tempos difíceis (...) nós não podemos ser um país de muitas cigarras e poucas formigas, de haver muitos a quererem gastar mais, e durante muito tempo, do que aquilo que temos para gastar e depois por via disso sermos todos obrigados a pagar uma fatura que subiu muito além daquilo que podia ser razoável».
Perante as críticas que se avolumaram, o ministro Miguel Macedo esclareceu esta segunda-feira que não pretendeu fabular contra o sentido habitual da própria fábula.
Ou seja, explicou o ministro, «aquilo que quis significar com aquela declaração foi uma homenagem ao trabalho de todos aqueles que criam riqueza no país, em especial aos trabalhadores por conta de outrem, aos pequenos e médios empresários, comerciantes e agricultores, que pelo trabalho de formiga que todos os dias fazem criam riqueza, mantêm e criam postos de trabalho em Portugal».
Mas as fábulas nem sempre têm sentido único, como explicou à TSF Ana Paiva Morais. Esta professora da Universidade Nova de Lisboa que coordena o projeto "A fábula", lembrou que a fábula da Cigarra e da Formiga é uma história com alguma ambiguidade.
«A formiga trabalha sempre mais que a cigarra simplesmente essa situação pode ser vista ou como um benefício, no sentido de que quem trabalha pode depois beneficiar daquilo que juntou, ou noutros casos a formiga pode ser vista como um figura muito cruel que se recusa a ajudar alguém em necessidade», explicou.
A professora Ana Paiva Morais sublinha que «há sempre fábulas que podem ser usadas seja qual for a realidade que vivemos» porque «pelo seu carácter pedagógico prestam-se muito a ser utilizadas como exemplo».
«Penso que o ministro claramente fez referência à fábula nesse registo da alusão, manteve-se nesse contexto narrativo que a fábula carrega, e as interpretações são características também da capacidade que a fábula tem de ser interpretada de várias maneiras», referiu Ana Paiva Morais.