Veja o mapa de risco de incêndio em Portugal e conheça onde são investidos mais fundos na floresta.
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Quase todos os apoios para melhorar os povoamentos florestais têm ido para o Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo, zonas onde o risco de incêndio florestal é muito mais baixo que no Norte ou Centro.
A aparente contradição é denunciada por especialistas, autarcas, produtores e visível quando se cruza o último relatório do Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), entre 2007 e 2015, com o mapa de perigo de fogo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
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Um mapa que revela, também, o forte risco da região conhecida como Pinhal Interior onde ficam, por exemplo, Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Pampilhosa da Serra e Góis, quatro dos concelhos mais fustigados nos últimos dias.
Do lado do investimento comunitário e público na melhoria da produtividade dos povoamentos florestais, na divisão regional o relatório do PRODER indica que o Alentejo recebeu, entre 2007 e 2015, 57% do investimento aprovado, seguido de Lisboa e Vale do Tejo (26%), Centro (10%), Algarve (4%) e Norte (2%).
Miguel Freitas, antigo deputado do PS que em 2014 assinou um relatório final de um grupo de trabalho parlamentar sobre os incêndios florestais, vai mais longe e diz que entre 2007 e 2015 o investimento na floresta do Pinhal Interior (tal como no Norte e Centro) caiu perto de 80%.
Porquê?
À TSF, Miguel Freitas defende que a razão para este enorme desequilíbrio regional está sobretudo no facto de os concursos para os fundos comunitários privilegiarem as grandes propriedades (latifúndios) que são raras no Norte e no Centro.
Na prática, pela divisão da propriedade, na "batalha" das candidaturas aos fundos europeus, resume o antigo deputado, essas regiões não têm hipótese de vencer contra o Sul. Uma conclusão subscrita, também, pelos autarcas e produtores contactados pela TSF.
A diretora-geral da Associação Florestal de Portugal (Forestis), Rosário Alves, explica mesmo que há muito que alertam os governos para os critérios errados para decidir quem recebe os fundos comunitários, afectando a gestão da floresta e a prevenção dos fogos florestais.
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Pinhal Interior pede mudanças urgentes
Miguel Freitas, o antigo deputado do PS, argumenta que o problema afecta especialmente o Pinhal Interior prejudicando muito a prevenção de fogos florestais.
Os três presidentes de câmara do Pinhal Interior contactados pela TSF também dizem que há vários anos que têm visto cair a pique o investimento público na floresta da região, através dos fundos comunitários, devido à pequena propriedade que predomina no Centro do país.
O autarca de Arganil, Ricardo Alves, acrescenta que "a nossa dimensão média da propriedade é muito inferior à que existe, por exemplo, no Alentejo", pelo que são os próprios programas negociados entre a União Europeia e o governo em Lisboa a favorecer o latifúndio. Faria por isso sentido existir um programa específico para apoiar a floresta do Pinhal Interior.
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Outro autarca da região, João Miguel Henriques, subscreve que as regras dos fundos comunitários estão a prejudicar o Pinhal Interior.
O presidente da câmara de Vila Nova de Poiares diz que a forma como as candidaturas estão desenhadas afasta muitos pequenos produtores da região e dá um exemplo de um projeto que apresentaram para criar zonas de contenção dos incêndios.
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João Miguel Henriques recorda que o projeto de Vila Nova de Poiares acabou ultrapassado por candidaturas do Ribatejo e Alentejo exatamente porque reunia pequenos produtores florestais e não ser de um grande proprietário.