Arte inclusiva: Helena David tem obra no Vaticano e recebeu carta de Francisco antes de Papa morrer
Autora: Maria Ramos Santos
Uma sala cheia de retratos, uma carta assinada pelo Papa e um cinto laranja à cintura. Entre o parakarate e a pintura, Helena David mostra que o talento não tem barreiras. A aluna do Externato AlmaSã "move uma família inteira" e prova que a arte pode transformar vidas. No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, conhecemos a história de quem mostra como a inclusão é muito mais do que retórica.
Era apenas mais um treino de Parakarate no Externato AlmaSã, em Almada, até que alguém aponta para Helena David. Com um cinto laranja, sorriso discreto e postura firme, mal a TSF sabia que à frente tinha uma artista plástica com o privilégio de já ter chegado ao Vaticano. Quem nos contou foi o mestre José Chagas no fim do treino. Com o mote lançando, fomos conhecer o testemunho de quem mostra que a inclusão é muito mais do que só palavras.
"A Helena, além de ser uma parakarateca, é uma pintora. Sabe que fez o retrato do Papa [Francisco] e ele antes de morrer mandou-lhe uma carta especial. É uma honra para nós."
Saímos do pavilhão e seguimos pelo corredor com a presidente daquele externato, Luísa Bexo. "Faz favor de entrar que a partir de agora é só arte."
Na sala, os quadros de Helena ocupam paredes inteiras. Desde Frankie Chavez, Luisão, Áurea ou Amália, é uma fileira de retratos impossível de contar.
"Neste momento ela tem obras nos lugares mais nobres da cidade. Há artistas que lhe pedem para ser pintados por ela. No ano passado entregou pessoalmente o retrato do professor Marcelo Rebelo de Sousa, no Museu dos Coches", destacou a presidente da escola, enquanto nos mostrava os trabalhos de Helena como quem percorria um álbum de família.
"Mas ela faz uma coisa ainda mais fantástica", atirou.
O quê?
"A Helena é o centro da sua família e consegue movimentá-la para tudo aquilo que está implicada. Já fez várias exposições individuais, tem ganhado vários prémios de cultura, arte e criatividade, e para tudo aquilo a que se propõe fazer ela arrasta a família. Penso que isso é o mais importante. Estar na sociedade com este lugar de destaque é algo de que nos orgulhamos."
Entre dezenas de pinturas e outros trabalhos, há uma peça protegida numa moldura de vidro: a carta enviada e assinada pelo Papa Francisco. Em três parágrafos, o então chefe da Igreja Católica agradece o retrato feito por Helena e sublinha a importância da arte na inclusão das pessoas com deficiência.
Quando falamos com Helena sobre este momento, nem precisou de dizer nada. Os olhos brilharam e a reação foi simples: "É especial. Gosto de pintar."

Para Luísa Bexo, "há sempre uma aprendizagem naquilo que estão a fazer", em particular quando falamos de pessoas que estão numa idade em que já não tem escolaridade. "É hoje ela que leva a cultura a casa. Os pais começaram a ligar-me e a dizer que a Helena só falava no Van Gogh. A arte pode salvá-los e os pais têm orgulho."
O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado a 3 de dezembro, foi instituído pelas Nações Unidas para promover a dignidade, os direitos e o bem-estar das pessoas com deficiência em todos os âmbitos da sociedade.
