O concelho algarvio lançou campanha para recrutar efetivos para a corporação de voluntários
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Logo à entrada da vila vê-se um enorme outdoor a apelar à inscrição de novos bombeiros. Pela localidade foram espalhados panfletos um pouco por todo o lado com a mesma mensagem: "Podes apoiar esta causa e ser parte ativa nesta missão", diz um dos cartazes. "Sabemos que os jovens têm outros apelos e pensam noutras carreiras de futuro, mas nós, que somos uma Associação Humanitária Voluntária, precisamos de bombeiros", afirma a presidente da direção.
Para angariar novos profissionais foi lançada uma campanha naquele que é o acontecimento anual mais marcante da terra, a Feira da Serra. "Com uma frase interessante: 'Precisamos de si, abrace esta causa'", conta Custódia Reis. Só em 2024 este já é o terceiro concurso aberto para recrutar gente, mas até agora ninguém se inscreveu. O comandante dos Bombeiros Voluntários de São Brás de Alportel lamenta, mas compreende que homens e mulheres sejam aliciados para as corporações municipais dos concelhos vizinhos que oferecem melhores condições. "Têm um estatuto próprio, têm uma carreira (...) e então perdemos alguns recursos [humanos] para esses corpos", explica Vítor Martins.
No entanto, como estão numa zona central do Algarve, são chamados amiúde para darem colaboração a essas corporações vizinhas, como Faro, Loulé ou Olhão. "Ao nível do socorro, seja em situações de incêndio, seja em situações de [auxilio] pré-hospitalar, saímos do nosso concelho e ainda apoiamos ocorrências nos concelhos limítrofes", lamenta.
Por comparação, enquanto na corporação só metade dos efetivos ganha vencimento, que ronda o salário mínimo, nos corpos de bombeiros municipais, logo em início de carreira, os efetivos podem auferir mais 400 euros.
A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de São Brás de Alportel é uma corporação com 97 anos que não quer morrer, no entanto, os apoios do estado central são poucos. "Trabalhamos sob a tutela da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), mas infelizmente tem sido uma tutela só para nos fazer chegar obrigações e não uma tutela que nos faz chegar o envelope financeiro para acudir às situações", lamenta.
Vítor Martins garante que os apoios anuais da ANEPC para a corporação rondam os 20% das suas necessidades. Tudo o resto vem do apoio da autarquia, dos donativos e de iniciativas para angariar receitas próprias, para as quais muito contribui a comunidade estrangeira existente na localidade.
A presidente da Associação Humanitária considera que "já vem tarde" a revisão da lei do financiamento e lembra que há uma petição a correr que defende a celebração de contratos programa entre o Estado e as Associações Humanitárias. "Tem de haver um olhar sério e responsável dos vários ministérios e que tarda", avança Custódia Reis.
Em relação ao futuro, o comandante da corporação tem as expetativas colocadas em oito jovens que vão ingressar num curso profissional de bombeiro, o primeiro a sul do Tejo, numa parceria entre a Escola Secundária José Belchior Viegas e a Escola Nacional de Bombeiros. "É uma lufada de ar fresco na nossa casa e espero que após formados, venham engrossar as nossas fileiras". "Temos lugar para eles", garante.