O presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, lançou um duro ataque ao presidente da República, Cavaco Silva, por causa da polémica do Estatuto do arquipélago. César, em entrevista à TSF e ao DN, acusa Cavaco de ser «o principal responsável» pela crispação criada e de ter «aberto feridas sobre a autonomia que já estavam saradas».
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Na primeira entrevista de Carlos César depois de Cavaco Silva ter promulgado o Estatuto dos Açores, o presidente do Governo Regional não poupa nas criticas ao Presidente da República, a quem acusa de ter «aberto feridas sobre a autonomia que já estavam saradas».
César lembra que, depois do «exagerado e despropositado ênfase» que Cavaco colocou neste tema, o Provedor de Justiça já anunciou ir pedir a constitucionalidade da existência de provedores sectoriais na região e um chefe militar já disse «impensadamente» que não ia hastear a bandeira dos Açores nos quartéis, como prevê o novo Estatuto.
Carlos César revela que Cavaco Silva nunca falou com ele sobre o polémico diploma e considera que o Presidente da República «ou sobrevalorizou as normas e depois não pôde voltar atrás, ou é contra a autonomia, ou usou os Açores para um braço-de-ferro político. Para o líder do PS nos Açores, Cavaco foi «enganado pelos seus colaboradores e depois não pôde voltar atrás».
O presidente do governo Regional diz que a «técnica legislativa», que Cavaco considera retirar poderes ao Chefe de Estado através de lei ordinária, «não foi introduzida agora» e acusa o Presidente de não se ter incomodado quando, na década de 80, o Estatuto dos Açores passou a obrigar o Presidente da República a ouvir a Assembleia Regional antes de nomear o representante da República no arquipélago.
César vai mais longe e dá exemplos de leis recentes que retiram poderes ao Governo para os atribuir ao Chefe de Estado.
Concluindo, o líder do PS açoriano considera «inconcebível e insustentável politicamente dizer que os poderes do presidente da República são diminuídos».
Cavaco e Jardim
Para o presidente do Governo Regional dos Açores «há uma inconstitucionalidade por omissão» no Estatuto da Madeira, porque não foi ainda adaptado à revisão constitucional de 2004. César diz que Alberto Jardim está agora a falar de federalismo porque «quer pedir o máximo para não fazer o mínimo» e acrescenta que o líder da Madeira tem a «complacência do Presidente da República», a quem acusa de «ser muito lesto a fazer referências sobre o Estatuto dos Açores, mas não ser tão intenso e tão atento às questões da Madeira».
Alegre e PS
Carlos César volta a defender Manuel Alegre na polémica com o PS que vê «com apreensão», mas também afirma que não gostou de ver o seu camarada de partido numa iniciativa ao lado do Bloco que se aproveitou politicamente. Para o líder do PS/Açores, os socialistas têm de se habituar a ouvir vozes dissonantes no interior do partido. César manifesta a esperança de ter Alegre na campanha do PS nas próximas legislativas, até porque não acredita que o histórico socialista esteja mesmo a pensar em criar um novo partido, mas não considera essencial que Alegre venha a ser candidato a deputado.
Avisos ao Governo
Sobre a crise e as medidas anunciadas pelo Executivo para a combater, Carlos César começa por elogiar o controle do défice feito pelo actual Governo, mas revela «reservas temporais» em relação às grandes obras públicas (novo aeroporto e TGV) e pede contenção nos gastos públicos em «ano de grandes eleitoralismos». Para o presidente do Governo Regional dos Açores, o dinheiro do Estado deve ser aplicado «no pequeno investimento que reforce as economias regionais e locais».