"Fico preocupado." Dois terços dos convocados não fizeram o rastreio do cancro do cólon
O presidente da Sociedade Portuguesa de Gatrenterologia diz-se preocupado com estes números e admite que pode ser necessário repensar a estratégia de convocatória.
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O cancro do cólon e do reto é o segundo mais mortal em Portugal, mas, mesmo assim, dois terços das convocadas pelo Serviço Nacional de Saúde para os rastreios não aparecem, avança o Jornal Público, citando o o último relatório sobre o Acesso a cuidados de saúde nos estabelecimentos do SNS e entidades convencionadas.
Entrevistado pela TSF, o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia diz-se preocupado com estes números e admite que pode ser necessário repensar a estratégia de convocatória.
"Fico preocupado, porque o nosso objetivo é que o maior número de pessoas faça o rastreio e isso significa que a atual estratégia de enviar para casa pelo correio testes para as pessoas fazerem sem terem acesso ao médico, à informação, ao poder de convencimento do médico não será uma estratégia 100% eficaz, como estes números demonstram. Logo, temos de repensar um pouco a nossa estratégia", sustenta Rui Tato Marinho.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia sublinha que aderir ao rastreio pode ser uma questão de vida e de morte: "É um cancro que não é 100% mortal, nós conseguimos salvar muitas vidas com estas medidas, essa é que é a grande questão. A pessoa, muitas vezes, passado uns anos quando tiver de ser operada, fazer quimioterapia, ficar sem cabelo, ficar com o saquinho de que as pessoas têm medo, vai pensar: "'Que pena, poderia ter salvado a minha vida há 10, 15 ou 20 anos.'"
Apesar de o Serviço Nacional de Saúde ter melhorado a cobertura em todas as regiões do país, a percentagem de pessoas que fazem os rastreios tem vindo a cair. No ano passado, só um terço das 400 mil pessoas convocadas fez o rastreio do cancro do cólon e do reto.
Em entrevista ao Público, o presidente da associação de doentes Europacolon e o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia apontam ainda como eventuais causas para este não-comparecimento aos rastreios a falta de literacia em saúde, o desconforto que representa ter de repetir o exame todos os anos, a forma como os rastreios estão a ser feitos sem um acompanhamento continuado das pessoas ao longo de todo o processo, desde a primeira fase dos testes feita em casa até à eventual realização de uma colonoscopia.
Mas o relatório anual sobre o acesso aos cuidados de saúde aponta outros casos em que a oferta do SNS é desperdiçada: há muitas mulheres que não fazem o rastreio do cancro da mama. Apesar de a taxa de adesão estar a aumentar, no ano passado, só dois terços das mulheres fizeram as mamografias para que foram convocadas. No caso do cancro do colo do útero, a adesão é substancialmente superior.