A polémica sobre a participação na Festa do Avante, as eleições no Brasil e a música de mulher preta brasileira. "A minha possibilidade de fala não pode ser tolhida e tenho a liberdade de escolher os meus palcos", afirma à TSF a cantora brasileira, que revela as ameaças recebidas nos últimos dias: "Pessoas que dizem 'Toma cuidado!' ou 'Volta para a tua terra'."
No castelo de Sines, Bia Ferreira levantou a bandeira do Amor.
"A minha arte é de revolução e protesto", começa por dizer Bia Ferreira. "Toda a vez que eu falo são as vezes que eu consigo quebrar com o silêncio que me impuseram. Distorcer o meu discurso para um lugar que inflame o desgosto das pessoas e desperte raiva é irresponsável."
Após ter respondido nas redes sociais aos que a criticam por participar na Festa do Avante, a artista brasileira dá voz à liberdade de expressão: "Estão me julgando, mas não estão ouvindo o que eu estou dizendo. É cruel a forma como estão me tratando." A cantora sublinha que falar do racismo, das desigualdades sociais e LGBTGIA+ "não é um discurso tão bem aceite". E, por isso, salienta, "todos os palcos que me ofereçam eu ocupo".
À chegada a Portugal esteve já com Dino d'Santiago, outro dos participantes na Festa do Avante. "Daqui a um tempo posso contar aos meus filhos que estive lutando do mesmo lado do Dino, numa revolução a partir da cultura, e isso para mim é motivo de orgulho."
E quanto aos que a criticam, sugerindo o posicionamento conservador do PCP sobre as comunidades LGBTQIA+, Bia responde sem rodeios: "Convoco a todos para estar e mostrar que tem maricas, tem sapatão, tem veado, tem todo o mundo e que não precisa ser comunista para ir no Avante."
A música das eleições brasileiras é outra. Da regressão social sofrida nos quatro anos de Bolsonaro, "tem gente na fila para comer ossos e colocar na sopa". Há esperança em Lula da Silva: "Graças a ele eu aprendi inglês nas escolas e minha família pode ter carro e comida na periferia."
Mesmo afirmando que é preciso renovação na política, Bia Ferreira acredita em "espantar esse fantasma já no primeiro turno, que representa o pior Governo do Brasil desde a ditadura".
Na entrevista à TSF, Bia Ferreira fala também do próximo projecto, um disco entre o Amor e a Tecnologia: rajada de cultura/para fazer o coração bater/ porque com arte e conhecimento a gente vai vencer/ rajada de cultura/ um tiro de poesia/ a arte salva e cura e fez isso na minha vida.
Emancipar, descolonizar a mente e fazer a revolução.
'Avante, Bia Ferreira', pareceu dizer o público que esta quinta-feira ocupou o castelo de Sines para ouvir e sentir a música da mulher preta brasileira.