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"Aquilo que um escritor deixa não é, muitas vezes, imposto por ele, nem Saramago o quis fazer. Aquilo que o escritor deixa é uma proposta ou muitas propostas, diria até, tantas propostas quantas as leituras dos seus leitores." É o "eterno professor" Carlos Reis que o diz, em confidência a Fernando Alves, numa entrevista na Manhã TSF, a dias de se celebrar o centenário de Saramago.
A 16 de novembro de 2022 passam cem anos do nascimento de José Saramago. A Comissão Nacional do Centenário, presidida por Carlos Reis, propõe-se celebrar o grande escritor mas também o cidadão, uma "derivação do legado de Saramago" e que "vem diretamente do discurso que ele fez na entrega do Nobel, em Estocolmo, quando sublinhou que os direitos humanos são muito importantes, mas não são menos importantes os deveres".
Ouça a entrevista de Fernando Alves com Carlos Reis.
A obra do Nobel português tem tido expressão em todas as artes, e as celebrações do centenário foram pensadas para as abraçar, sem exceção. O certame articula-se em quatro eixos programáticos: o da biografia, , o da leitura, o das publicações, o académico, mas Carlos Reis faz questão de mencionar: "Sublinho sempre o eixo da leitura porque nele estão contidos todos os outros."
São esperadas com expectativa as leituras centenárias, a 16 de novembro, momento em que centenas de crianças lerão "A Maior Flor do Mundo" em simultâneo, com ecos literários a ouvirem-se por Lanzarote, no Brasil e em Portugal. Esta iniciativa é uma aposta forte, e Carlos Reis justifica-o: "É neles, os jovens, desde o jovem do ensino básico até ao jovem universitário, que está o futuro, de Saramago e da literatura."
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"A escola é o lugar nuclear do trabalho do centenário; a escola numa aceção muito ampla, porque é a escola dos jovens que estão agora a começar a ler, mas é escola também universitária dos jovens que assistem a conferências, a debates, a colóquios sobre Saramago", reforça o responsável pelo Centenário. "Nessas leituras, estão outras formas de ler Saramago. Está o bailado, está o cinema, está a pintura, está o teatro, está muito daquilo que Saramago fez - Saramago foi também um autor dramático, como se sabe - e muito daquilo que ele propôs a outras artes, e essas são leituras também que é preciso saber valorizar."
Nesta homenagem, uma obra ganha especial relevo, assim mesmo, erguida do solo onde assenta tanta literatura e vivência literária."O livro 'Levantado do Chão' é um livro onde está muito bem representado um motivo muito importante da obra de Saramago, que é o motivo da viagem, ou da deambulação, ou da passagem de um lugar para outro, de um tempo para outro", nota Carlos Reis.
"O 'Levantado do Chão' permite, tem permitido - isso já foi feito muitas vezes -, roteiros que envolvem sobretudo lugares no Alentejo: Montemor-o-Novo, Lavre, muitos lugares onde o Saramago esteve e onde colocou a ação de 'Levantado do Chão', e é isso que é mais importante", aponta ainda.
E há uma forma de conhecer e de viver o universo evadido de Saramago. "Há uma geografia saramaguiana que, de resto, está representada no seu livro 'Viagem a Portugal', que acaba de ser reeditado, e há outros projetos em torno de 'Viagem a Portugal', porque 'Viagem a Portugal' é uma forma singular, não só de conhecermos Portugal, mas de reconhecermos Portugal, em diálogo com o olhar que percorreu o país há algumas décadas."
A fotobiografia de Saramago, de Ricardo Viel e Alejandro Garcia, é também um dos muitos acontecimentos editoriais previstos para este ano do centenário.
A Biblioteca Nacional e a Torre do Tombo estarão envolvidas nesta iniciativa. Está ainda prevista uma exposição documental no São Carlos, dando conta da relação de Saramago com a música. Ninguém fica de fora.