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Com uma mensagem de inclusão, a Brigada das Cores utiliza a quietude para "congelar momentos do dia-a-dia numa rua" e pintar os caminhos do jardim Basílio Teles.
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A paisagem do jardim, coberta de vegetações verdes, ganha vida com a chegada deste grupo de artistas, que se veste a rigor com as sete cores do arco-íris para passar a mensagem "somos todos diferentes, mas todos iguais".
O projeto, que nasceu em 1998, pretende "chamar a atenção para gestos do quotidiano, criar quadros coloridos, com gestos do dia-a-dia. Desde um olhar, um cumprimento, que horas são, uma imobilização". "Brincamos também muito com a quietude, todos nós fazemos estátua viva e, digamos, congelamos momentos do dia-a-dia numa rua. É muito simples, é um espetáculo muito minimalista", explica António Santos, o criador da Brigada das Cores.
Por "falta de cachê", o grupo tem atuado sem todas as cores do arco-íris. Habitualmente, saem à rua apenas "três ou quatro", como aconteceu neste domingo. Mas a possibilidade de atuar num festival que partilha os mesmos valores é, para os artistas, "ouro sobre azul".
"É um festival pouco usual em Portugal e eu estou muito contente com isso. Para ser um autêntico festival como na Irlanda há dezenas só faltam as barraquinhas da comida", disse Santos, entre risos.
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O artista diz-se orgulhoso de poder participar com o seu grupo num evento em que "mensagens e conferências estão a existir ao mesmo tempo".
"Quase que somos o postal do próprio festival, a nossa mensagem é a mensagem do festival", continuou.
A propósito deste comentário, Hugo Osga, membro da Brigada das Cores, recorda um "momento especial" para o grupo que ocorreu durante o Festival Moods, no sábado, quando João Aires, consultor de marketing territorial e responsável por desenhar o festival, "estava a falar com o senhor prémio Nobel da Paz Muhammad Yunus e estava a comentar "Aqui em Portugal somos todos diferentes, mas todos iguais"". "Foi nesse momento que nós aparecemos, sem querer, e ele apontou para nós. Foi assim um momento especial, uma coincidência que aconteceu muito bonita".
A Brigada das Cores, que em cada canto vai intrigando a mente dos mais atentos com movimentos de mimo, é recebida com sorrisos do público que não resiste a fotografá-la, acabando estes também, de certa forma, a congelar o momento que o grupo quis retratar.
Questionados sobre uma próxima participação numa eventual segunda edição deste festival, os artistas responderam prontamente: "Cá estaremos e podemos vir as sete cores do arco-íris."
Para os elementos do grupo, este tipo de iniciativas "são muito importantes, porque mesmo que não seja o objetivo do festival, há uma coisa que acontece sempre, que é a criação de novos públicos. E é assim que se criam mais festivais".
Portugal tem, contudo, "um problema grave", segundo o criador do grupo.
"No geral, a cultura é muito pouco apoiada pelo Estado. E dentro da cultura, as artes ainda menos. É triste. As pessoas gostam, mas o Estado ainda não abriu bem os olhos para a importância das artes de rua", desabafou.
António Santos lamenta ainda que a profissão de artista de rua ainda não seja reconhecida.
"A Direção-Geral das Artes tem apoios para artes de rua, mas não reconhece a profissão de artista de rua. Logo, são outros artistas que são apoiados para fazer arte na rua. A nível económico, somos pouco apoiado", explicou.
Osga partilha da mesma opinião e lembra que "o orçamento de Estado para a cultura não chega a 1%" e que essa é uma batalha, que apesar de ser partilhada por todos os artistas do país "desde o teatro, à música e ao circo", que ainda não conseguiram ganhar. "Eu acho que isso diz tudo", concluiu Hugo Osga.
"Eu assisti a uma inauguração de um teatro de óperas na Áustria, aqui há uns anos, e a ministra da cultura austríaca disse uma frase que eu nunca mais esquecerei: "A cultura pode ficar cara, mas a incultura fica sempre muito mais cara"", remata António Santos.
Este domingo marca o fim do Festival Moods, que teve a duração de três dias, uma iniciativa do Global Media Group, em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos, a Galp, a Caixa Geral de Depósitos, a Fundação INATEL e o Grupo Bel.