Contrastes na competição deste festival que está ao rubro. O que dizer de Firebrand, crónica das atrocidades de Henrique VIII, o rei mais vil da História de Inglaterra? Que o brasileiro Karim Ainouz terá metido os pés pelas mãos num épico sobre um comportamento nefasto da monarquia de um império? É bem possível, mas no mesmo dia: o que exclamar da obra-prima de Aki Kaurismaki, Fallen Leaves, entrada do realizador finlandês nas mais puras das histórias de amor? Talvez que seja o culminar de uma ideia de cinema onde o humanismo vem sempre ao de cima.
Em Firebrand, vemos Alicia Vikander como Catherine Parr, a rainha que não resistiu ao ódio do seu rei, interpretado por Jude Law. Pena que se sinta sempre que tudo é encomenda. Mas em Fallen Leaves, vemos cinema de uma pureza que não se acredita - personagens do proletariado tratadas como uma dignidade que comove. É Aki Kaurismaki a abordar a guerra da Ucrânia à distância mas também a falar de alcoolismo de uma sociedade - sempre a acreditar no romance. Uma história de amor salva-nos e isso é tão bonito.
Também de beleza inqualificável é Légua, passa hoje na Quinzena dos Realizadores e terá a presença de Pedro Adão e Silva, o ministro da Cultura que dignificará esta consagração de Miller Guerra e Filipa Reis, cineastas que fazem um dos grandes filmes portugueses dos últimos tempos. Légua, repito o título, já com estreia em Portugal para o mês que vem.