"Maria Amélia esteve 18 anos sem cantar, e o FC Porto ficou 18 anos sem ganhar o campeonato"

Pinto da Costa lembra Maria Amélia Canossa como "uma pessoa extraordinária", que "vivia o Porto e sofria pelo Porto com uma paixão tremenda". O biógrafo Fernando Campos de Castro cose as vidas do clube e da artista de tal forma que lembra os 18 anos em que os dragões não venceram o campeonato nem ouviram a artista cantar o hino. Para Carlos Tê, fica "aquele hino, aquela voz", num impacto que descreve como "épico".

Mais cedo ou mais tarde o FC Porto homenageará Maria Amélia Canossa, a voz do hino e a criadora da marcha do clube, que morreu na terça-feira, aos 88 anos. "Naturalmente havemos de lhe prestar uma homenagem. Ela nunca poderá ser esquecida no FC Porto." A garantia é de Pinto da Costa, que recorda, em declarações à TSF, a voz de um hino vencedor que dava força aos jogadores e transbordava poder.

Além da marca indelével que deixou no FC Porto, Pinto da Costa não esquece que a cantora Maria Amélia Canossa ficou conhecida como a princesa da rádio. "Nós falávamos muitas vezes nisso, porque havia nessa ocasião uma revista chamada Flama, que lançava um concurso da rainha e da princesa da rádio. O seu diretor era muito amigo da nossa família - frei João Diogo Crespo -, que organizava essas festas. A rainha da rádio foi uma senhora chamada Júlia Barroso, e a princesa, que ficou em número 2, foi a Maria Amélia Canossa, e houve uma grande festa do Coliseu. Como éramos amigos do diretor, depois da festa, fomos jantar ao restaurante perto do Coliseu, com Maria Amélia Canossa, que era a homenageada."

"A partir daí, gravou o hino do Porto, já era uma grande portista. Criámos uma grande amizade. Depois, mais tarde, quando entrei para cargos diretivos, essa amizade ainda se cimentou mais." Jorge Nuno Pinto da Costa via na amiga "uma pessoa extraordinária", que "vivia o Porto e sofria pelo Porto com uma paixão tremenda".

É "uma grande perda", de "uma amiga que foi para bom sítio, de certeza, mas que deixa a todos uma grande saudade", acrescenta. "Vai restar-nos a consolação de todas as semanas podermos ouvir a sua voz. No museu, logo à entrada, está a possibilidade de se ouvir o hino cantado por ela." O dirigente desportivo lamenta este "momento triste, em especial para o FC Porto".

Fernando Campos de Castro, biógrafo de Maria Amélia Canossa, lembra que a cantora foi fundamental para pôr de pé o Estádio das Antas. "Fez tudo, tudo, inclusive concertos no Coliseu do Porto", rememora, recuando a uma série de espetáculos que contaram, inclusivamente, com a presença de Amália Rodrigues, e que serviram para angariar dinheiro para a construção do Estádio.

Criadora do hino e da marcha do FC Porto, Maria Amélia Canossa era uma portista ferrenha, afirma Fernando Campos de Castro. "Para ela, eram as cantigas - primeiro a família - e depois o Porto, por isso é que dei este nome ao livro. Ela é do Porto, é sempre nossa... Maria Amélia Canossa." O biógrafo fala da obra "É do Porto e sempre nossa, Maria Amélia Canossa", em que plasma como se confundem as duas histórias de vida: a da artista e a do clube. "Na altura em que Maria Amélia casou e esteve 18 anos sem cantar, o FC Porto esteve 18 anos sem ganhar o campeonato. É incrível isso. E ela disse: 'Ó Fernando, como é que pode ser? Eu nunca tinha pensado nisso'."

Como no futebol, a vida de Maria Amélia Canossa não foi feita apenas de alegrias, e o autor Fernando Campos de Castro recorda a tristeza da alvorada do Estádio do Dragão. "Quando não havia SAD, era uma coisa; agora é completamente diferente, porque ela - eu digo isto com uma mágoa muito grande, chorámos os dois muito -, quando foi a inauguração do novo estádio, do Dragão... Não a convidaram, nem sequer para ir assistir à cerimónia. Escrevi uma carta ao Pinto da Costa, e o Pinto da Costa depois mandou-lhe 'muita desculpa, porque aquilo agora é diferente por causa da SAD'... "

São "desculpas" que Fernando Campos de Castro diz não ter aceitado, e vinham acompanhadas de dois bilhetes, um para Maria Amélia Canossa e outro para o marido, recorda o autor. "Quando ela o recebeu, telefonou-me, e disse: 'Eu recebi os dois bilhetes, obrigadíssima pela carta que mandou. O que é certo é que é um de cada lado, eu e o meu marido...' Eu disse: 'Não, vá, Maria Amélia, você vai chorar.'"

"O hino foi cantado por alguém que nada tinha que ver com o Porto, e ela ficou triste como a noite. A partir daí, esmoreceu imenso, e já não era a mesma Maria Amélia..."

Carlos Tê aponta, em vez disso, apenas memórias felizes, e diz que cresceu a ouvir Maria Amélia Canossa, uma voz eterna e que uniu gerações. "Conheci-a, salvo erro, em 2007, aquando da regravação do hino do Futebol Clube do Porto. Lembro-me que gravava takes do hino à primeira, foi impressionante."

"Tinha uma voz ainda muito característica, muito fresca", declara o músico. "Na conversa que tivemos, naqueles momentos à volta da gravação, mantinha-se ainda uma pessoa vivaça." Há uma imagem sonora que estará sempre presa ao imaginário de Carlos Tê. "Habituei-me a ouvir aquela voz desde miúdo, quando ia ainda ao Estádio das Antas ver o futebol, e quando entrava em campo com aquele hino e aquela voz... Achava aquilo bastante épico."

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