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A escritora Helena Marques morreu na segunda-feira à noite, aos 85 anos, anunciou esta terça-feira o grupo editorial Leya, que publica a sua obra, que tem em "O Último Cais", de 1992, o romance de estreia.
De origens madeirenses, Helena Marques nasceu em Carcavelos, em 1935, tendo dedicado a vida profissional ao jornalismo e à escrita.
Publicou romances e livros de contos e recebeu vários prémios literários ao longo da vida, nomeadamente o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores.
Era mãe do editor Francisco Camacho, do grupo Leya, do jornalista Pedro Camacho, ex-diretor de Informação e atual diretor de Inovação e Novos Projetos da agência Lusa, e do antigo jornalista Paulo Camacho.
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Ouvido pela TSF, João Céu e Silva recorda-a como "uma mulher calma, muito atenta e muito suave". Essa é "a melhor palavra para a definir. Era um relacionamento muito fácil, apesar de ela ser muito exigente." Durante quase 40 anos, Helena Marques foi também jornalista e chegou a ser diretora adjunta do Diário de Notícias entre 1986 e 1992.
João Céu e Silva não esquece esse tempo: "Tenho memória do trabalho diário. Nos últimos tempos, ocupava-se da revista. Eu colaborava também com a revista e lembro-me de discutirmos."
Ouça João Céu e Silva, a recordar os tempos em que trabalhava com Helena Marques.
No último dia de trabalho, em 1992, Helena Marques foi informada de que receberia um prémio literário, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. "Por mais estranho que pareça, do que me lembro com mais força é do último dia de trabalho dela no Diário de Notícias", começa por dizer o jornalista. Helena Marques fazia então parte da direção. "Entretanto, a direção foi substituída e, o último dia em que ela trabalhou foi o dia em que recebeu um prémio por causa de um livro que tinha publicado. Eu lembro-me de lhe ter dito que se ia embora mas o prémio ficava."
O jornalista lembra o último dia de Helena Marques no DN.
Largamente aclamado pela crítica, o primeiro romance de Helena Marques, "O Ultimo Cais", recebeu vários prémios no ano em que foi editado, em 1992. O escritor João de Melo integrou o júri que distinguiu a autora com o Prémio Revista Ler/Círculo de Leitores e recorda a "escritora escondida pelo jornalismo".
Na obra, destaca "a extraordinária linguagem dela, de uma espécie de equilíbrio, um compromisso entre a melhor linguagem jornalística e a boa linguagem literária, e a história em si, de uma aproximação à grande burguesia madeirense, uma burguesia bondosa, instalada".
"Na Helena havia uma escritora escondida pelo jornalismo, e a prova disso é que, quando lhe telefonámos a dar a notícia para o Diário de Notícias, onde ela era subdiretora, ela espantou-se", rememora João de Melo.
João de Melo destaca a escritora que existia dentro da alma de jornalista.
Pedro Sobral, da editora Leya, que publicava os livros de Helena Marques, deixa uma homenagem a uma mulher que diz ser singular. "Para já, recordar a mulher. Helena Marques teve uma carreira no jornalismo absolutamente brilhante, numa altura em que era raro haver uma mulher a ascender aos cargos a que ascendeu nos vários cargos nos meios de comunicação social em que esteve."
"Intelectualmente brilhante, afável, extraordinariamente simpática e muito cordial", como a lembra Pedro Sobral, Helena Marques foi também galardoada com o Prémio Gazeta. Já "como romancista, começa com O Último Cais, que teve uma repercussão enorme; não só se tornou um best seller como ganhou inúmeros prémios e foi-se prolongando no tempo, o que é raro no mercado português", evidencia o editor.
Ouça a homenagem deixada por Pedro Sobral, da editora Leya.
* Atualizado às 13h32