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Tiago Rodrigues, o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, encontra na expressão do encenador Jorge Silva Melo - "o teatro engarrafado" - a melhor legenda para a situação que se vive, na urgência do reencontro com o público: "Temos muitos espetáculos que não podem ficar soterrados no entulho da pandemia".
O primeiro confinamento foi esgotante, "a tentar resolver tudo, todos os dias", o tempo engasgou, "foram dois meses paralisantes". Depois veio o verão de 2020, "um verão avassalador, o regresso à vida", e depois, outra vez, o confinamento. "Foi muito frustrante, mas já o conseguimos gerir com outra sabedoria".
Não há como escapar ao último ano de vida, mesmo numa casa que já tem 175 anos. "O último ano é o capítulo mais recente de resistência, de adequação às circunstâncias, e, acima de tudo, de uma tremenda solidariedade", é assim que Tiago Rodrigues enquadra os dias da pandemia.
Ouça aqui, na íntegra, a entrevista com Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II
Aqui chegados, é preciso insistir: "Faltam-nos as vacinas, falta-nos a liberdade de podermos retirar as máscaras, falta-nos voltarmos a ter as lotações cheias nos teatros, mas as políticas conseguem-se fazer com distância e com máscara, e este é o momento de fazermos as políticas para o futuro que queremos construir quando esta pandemia estiver muito próxima de ter sido vencida".
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É por isso que insiste no reforço da Rede de Cineteatros e Teatros Municipais, que pede que se cumpra a Constituição. "O direito à criação artística está consagrado na Constituição, mas sabemos que não é assim em todo o país. Espero que a pandemia, que revelou estas desigualdades, abra caminho a políticas estruturantes." É por isto e muito mais que espera sinais de mudança e políticas transformadoras.
A complexidade do que aí vem será um novo capítulo, mas, para já, sobra a esperança de saber que o público volta às salas já a partir de dia 19, com a peça "Catarina e a beleza de matar fascistas", texto e encenação de Tiago Rodrigues.
Ao longo da semana, pode ver gratuitamente, através das plataformas digitais, a peça infantil "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, e "Última Hora", encenação de Gonçalo Dias, a partir do texto de Rui Cardoso Martins, estreada em novembro passado.
Os 175 anos são assinalados no dia em que se celebra também o Beijo. "Primeiro, vamos beijar-nos em palco, para não nos esquecermos que isso faz parte das nossas vidas, e, muito em breve, quando tudo estiver melhor, voltamos a beijar-nos, porque o palco nos recorda que ainda é possível."