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Atravessando os andamentos do reencontro de um homem e de uma mulher - Paul e Adélia - Rita Azevedo Gomes anuncia "um filme luminoso", mesmo se o passado e o futuro carregam sombras e incertezas, que vão do "airoso ao profundo", tal como a música de Mozart. Das conversas ao cenário, a casa do arquitecto Alexandre Alves Costa, desenhada por Álvaro Siza Vieira, em Moledo do Minho, Rita Azevedo Gomes arrisca dizer que aconteceu "magia".
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"Um dia ela bate-lhe à porta, e ele recebe-a sempre. É o acaso, ou o destino deles." Ela é Rita Durão, "Adélia", e ele Pierre Léon, "Paul", um casal divorciado que se reencontra, um ano depois. Aos dois protagonistas da peça de Éric Rohmer, a realizadora acrescentou mais dois personagens, um realizador e uma assistente, que amparam as cenas do filme, revelando a fragilidade e a força dos diálogos e dos actores. É outra camada narrativa: "A escrita está cheia de subentendidos, entrelinhas, suposições, piscadelas de olho e uma profundidade que parece leve", conta Rita Azevedo Gomes em entrevista à TSF, "um conflito entre masculino e feminino o tempo inteiro".
A música, O Trio de Mozart é a chave para o dueto entre as duas personagens. "Para mim, o Paul é a viola que está sempre a ralhar e a Adélia, o clarinete que está sempre em divergência. O piano é o do Mozart, que se vai rindo, e estes instrumentos depois reconciliam-se e ficam amorosos. Ouvindo o Trio do Mozart está lá tudo." Uma pauta sobre as relações humanas.
Ouça aqui, na íntegra, a entrevista com Rita Azevedo Gomes, conduzida por Teresa Dias Mendes e com o cuidado técnico de José Manuel Cabo.
As três semanas de rodagem em Moledo do Minho, durante a pandemia, resgatam as memórias e a fantasia da realizadora: "Eu imaginava dois periquitos numa gaiola, felizes, a arrancarem penas aos beijinhos, amorosos, e a embirrarem um com o outro, mas não saem daquela gaiola se lhes abrirem a porta."
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Rita Azevedo Gomes fala de um filme luminoso, inspirado pelo cenário de uma casa caída do céu, "a casa do arquitecto Alexandre Alves Costa, em Moledo, abriu ideias, foi inspiradora, e eu pensava: 'O Siza fez esta casa para eu vir cá filmar.'" O cenário ajudou à atmosfera criativa "tão fora deste mundo, uma espécie de bola de sabão, que eu tentei reter a realidade do mundo, sem ruídos, sem carros, sem pessoas, limpei o mais possível para chegar àquele isolamento".
Trio em Mi Bemol chega às salas de cinema esta quinta-feira, dia 1 de dezembro, depois de ter estreado na Berlinale e de ter conquistado o Prémio de Melhor Realização Portuguesa para Longa Metragem, no IndieLisboa.