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A ministra da Cultura, Graça Fonseca, recordou hoje Agustina Bessa-Luís, que morreu na segunda-feira, como "uma mulher e escritora ímpar da cultura portuguesa", alguém que "utilizava a língua fazendo com que esta ganhasse vida".
"A Agustina era a grande mulher das letras portuguesas", disse Graça Fonseca, citando o escritor Eduardo Lourenço, à chegada à Sé Catedral do Porto onde decorre a missa de corpo presente da escritora Agustina Bessa-Luís, uma cerimónia à qual também assiste o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
"Mas é muito importante realçar também o papel como mulher. Era alguém muito atento à evolução do país, à sua intervenção. A Agustina era uma mulher e uma escritora ímpar na cultura portuguesa", disse Graça Fonseca, lembrando que o Governo português decretou para hoje dia de luto nacional.
A Agustina era uma mulher e uma escritora ímpar na cultura portuguesa.
A governante recordou, também, que Agustina Bessa-Luís "teve uma relação muito especial" com o realizador Manoel de Oliveira, bem como com a Cinemateca Portuguesa, razão pela qual, segundo Graça Fonseca, foi hoje feita uma homenagem à escritora neste equipamento cultural.
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A "plasticidade com que Agustina Bessa-Luís usava a língua portuguesa" foi outro dos destaques de Graça Fonseca, que apontou na escritora características ímpares como "exímia utilizadora da língua portuguesa".

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"Por um lado deixava sempre algo subentendido e, por outro lado, complementava a escrita de uma forma muito direta. Sabia muito bem observar a condição humana. A forma como utilizava a língua fazia com que a língua ganhasse vida própria", apontou.
Questionada, por fim, sobre se Agustina Bessa-Luís terá tido o reconhecimento internacional que merecia, a ministra da Cultura admitiu que esta é uma área que será trabalhada "com mais afinco".
"Temos procurado internacionalizar ainda mais os nossos escritores, criadores e artistas. Portugal é de facto um país rico. Felizmente tivemos a Agustina e temos outros extraordinários. É importante levá-los para além das fronteiras do país, porque é a melhor forma que temos como projetar Portugal e encontrar novos territórios, novas centralidades, para a cultura portuguesa. No caso da Agustina é algo que vamos trabalhar com mais afinco", concluiu.
A ministra da Cultura chegou à Sé Catedral às 15:11 da tarde, pouco antes de Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou às 15:30 e preferiu deixar as declarações aos jornalistas para o final da cerimónia.
Agustina Bessa-Luís, que morreu na segunda-feira, no Porto, aos 96 anos, nasceu em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e encontrava-se afastada da vida pública, por razões de saúde, há perto de duas décadas.
O nome da escritora, que se estreou nas Letras com o romance "Mundo Fechado", em 1948, destacou-se em 1954, com a publicação de "A Sibila", obra que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz.
Agustina recebeu também, por duas vezes, o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, a primeira, em 1983, pela obra "Os Meninos de Ouro", e, depois, em 2001, por "O Princípio da Incerteza I - Joia de Família".
A escritora foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.
Em 2004 recebeu o Prémio Camões, instituído pelos governos de Portugal e do Brasil, e o Prémio Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora.