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A vida dos adolescentes é o mote para a nova produção da companhia de teatro Peripécia, que vai estrear em Vila Real no dia 25 de maio. A peça "A idade do cacifo" explora as angústias, as alegrias e as incertezas típicas da idade, mas também aborda temas como a saúde mental, as questões de género, a orientação sexual, o "bullying", a ansiedade climática ou a violência no namoro.
Para conseguir ter uma noção mais precisa do que iria incluir na nova criação, a equipa da Peripécia foi, durante vários dias, à Escola Secundária Camilo Castelo Branco, em Vila Real, para perceber melhor como é a vida atual dos adolescentes.
Ouça aqui a reportagem da TSF
Sérgio Agostinho, codiretor artístico da Peripécia Teatro, explica que foram "viver um bocadinho a vida dos adolescentes". Durante alguns dias, os atores "presenciaram-nos e ouviram-nos", com o objetivo de captar "palavras e ideias-chave".
O também fundador da companhia do teatro assume que uma das coisas mais impactantes, sobretudo para ele, foi que "ao fim de meia jornada na escola já estava esgotado". E, apesar de "eles terem muita mais energia", isto fê-lo pensar que "se calhar se está a exigir muito dos adolescentes ao nível da carga horária e dos conteúdos".
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Neste contacto com os alunos a Peripécia também procurou "perceber o que marca hoje o dia-a-dia dos adolescentes, concretamente as temáticas que são motivo de angústia". Na verdade, esta nova peça teatral "nasceu da vontade de abordar a temática da adolescência" para que possa ser "mudada a forma como se olha para esta fase da vida de qualquer ser humano".
O também ator, que desta vez não entra na peça nessa função, nota que "há milénios que se anda a tratar mal a adolescência, pelas suas ideias e forma de estar, e já chega". Ou seja, "passar a assumi-la como uma fase importantíssima na vida de cada um" e que "não deve ser olhada de forma pejorativa".
Como a peça há de ser vista por jovens e menos jovens, também se pretende que os que já são pais percebem que os adolescentes "não têm certos comportamentos porque lhes apetece, mas porque é da sua biologia". Aos mais novos transmite-se a ideia de que é preciso estudar, mas Sérgio Agostinho lembra que "é preciso rever a forma", pois "anda-se a ensinar crianças e jovens da mesma forma desde o século XIX". "Talvez seja o momento de perceber que já não está a funcionar, pois muitos já não vão motivados para a escola".
Noélia Domínguez realça que durante a preparação da nova produção reviveu aspetos da sua adolescência de que já não se lembrava, mas também se apercebeu que talvez exista hoje "uma pressão que não é nada benéfica para eles". De acordo com a atriz e codiretora da companhia, os pais "não devem encaminhar os adolescentes, mas ir com eles". Ou seja, "eles sabem que estão por trás, mas que não os estão a encaminhar, porque o caminho é deles, são eles que têm de o encontrar".
A necessidade de mudar a forma como se olha para os adolescentes é o ponto de partida para "A idade do cacifo". É um espetáculo para jovens e adultos - especialmente aqueles que convivem de perto com adolescentes - e vai estar em cena no Teatro Municipal de Vila Real, a 25 e 26 de maio. Depois chegará a Sabrosa a 02 de junho.
A criação da Peripécia Teatro será apresentada, ainda, no espaço da Companhia - o Centro Cultural e Recreativo de Benagouro (Vila Real) -, integrando o programa do festival "Lua Cheia, Arte na Aldeia", nos dias 30 de junho e 1 e 2 de julho. Nos dias 10 e 11 de novembro irá até Bragança e no dia 24 do mesmo mês chegará a Matosinhos.
Para além dos diretores artísticos da Peripécia Teatro, Sérgio Agostinho e Noélia Domínguez, participam neste novo trabalho Élio Ferreira, Filipe Moreira e José Carlos Garcia (também responsável pela dramaturgia e encenação do espetáculo).