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Anualmente, a cooperativa cultural AUAUFEIOMAU garante aos amantes da música eletrónica a possibilidade de degustação de um cosmopolita programa de concertos, DJ sets, instalações, conversas e workshops, tendo como pano de fundo a romântica Braga outonal. De quinta-feira a domingo, um público cada vez mais internacional ocorreu aos insignes espaços da cidade, firmando-a como um dos epicentros mundiais da música eletrónica e da arte digital.
O festival iniciou-se na quinta-feira na solene Basílica do Bom Jesus do Monte com o resultado da encomenda em parceria com o festival francês Maintenant, a colaboração entre a francesa Félicia Atkinson (Shelter Press) e a emergente flautista experimental portuguesa, Violeta Azevedo.
No dia seguinte, no gnration, com acesso gratuito, Bartolomé Sanson (cofundador da Shelter Press) moderou a conversa entre o compositor franco-suíço François J. Bonnet (director do instituto INA-GRM) e o americano Stephen O"Malley (SUNN O))), KTL, Khanate) - atualmente a residir em Paris - em torno das particularidades do processo colaborativo de ambos, assim como da importância histórica do património do GRM (Groupe de Recherches Musicales). A programação prosseguiu na Sala Principal do Theatro Circo com a magnificente atuação de KMRU, um dos pontos altos desta edição. Progressivamente, o queniano insuflou a sala com uma torrente de drones expansionistas num contínuo elegantemente harmónico, onde pontualmente incluía subtis gravações de campo. Seguiram-se, na penumbra, François J. Bonnet e Stephen O"Malleye, num diálogo íntimo e ritualístico, ainda que este aparentasse, por vezes, alguma rarefacção. O multi-instrumentista português David Maranha (Osso Exótico, Appleton), atuou num registo expectável no recato do Pequeno Auditório. A noite terminou com o muito aguardado regresso do público à black box do gnration - e à utopia da pista de dança - para assistir à radical performance do húngaro Gábor Lázár e aos funcionais dj sets de Jana Rush (ícone do footwork de Chicago) e da portuguesa BLEID (cofundadora dos colectivos Intera e mina suspension, presença assídua nos eventos da Príncipe Discos).
O terceiro dia amanheceu com o workshop "The Ears of the Park" - com o mote "deep listening, indeterminação, ecologia e convivência" - facilitado por Félicia Atkinson e Violeta Azevedo, na mata do Mosteiro de Tibães. No Museu Nogueira da Silva, o jornalista Rui Miguel Abreu conduziu a segunda conversa do festival: a afro-portuguesa Xena e os cofundadores da Príncipe Discos - José Moura (Flur, Holuzam, Marte Instantânea) e DJ Marfox (Boomkat Records, Enchufada, Lit City Trax, Warp Records) - revisitaram a génese e a ética fundadora da editora, dando a conhecer a inspiradora história de uma década. Seguiu-se a estreia mundial ao vivo de "Hello Death" do sueco Malcolm Pardon (Roll The Dice), na sempre impressionante Capela Imaculada do Seminário Menor. De volta à Sala Principal do Theatro Circo, sucedeu-se a performance audiovisual do compositor e contrabaixista Maxwell Sterling e do artista visual Stephen McLaughlin, ambos britânicos. O alemão Alva Noto protagonizaria o segundo apogeu desta edição, com o débito de parte do material da sua trilogia "Unitxt", "Univrs" e "Unieqav": frontal e radiante, varreu sem misericórdia o espaço sonoro da sala. De sublinhar, a igualmente contundente componente visual é da autoria do próprio Carsten Nicolai (assistido pelo colaborador de longa data, o artista japonês Nibo). No Pequeno Auditório, caberia aos nova iorquinos Ben Vida & Lea Bertucci o último concerto da noite: uma expedição livre pela síntese modular, sampling de instrumentos e improvisação vocal, perante uma audiência aparentemente dessensibilizada pelo bom alarde da peça anterior. A noite terminou quente no gnration, com o showcase comemorativo dos 10 anos da Príncipe Discos com as atuações da promissora Xena, DJ Kolt (Blacksea Não Maya) e DJ Marfox.
O programa do quarto e último dia, iniciou-se com o transportador concerto em quadrifonia do fecundo Jan Jelinek, no repleto Salão Medieval da Reitoria da Universidade do Minho. A restante programação decorreu na Sala Principal do Theatro Circo. De regresso ao festival, a compositora italiana Caterina Barbieri canalizou uma electrónica intensa e passional, com imagens do italiano Ruben Spini e luz do alemão Marcel Weber (MFO). Invocou predominantemente o recém-editado "Spirit Exit" no seu selo "Light-years", assim como algum material clássico, como o extático e consensual "Fantas". Restava ainda a derradeira encomenda do Semibreve, a estreia mundial da colaboração entre o alemão Burnt Friedman - o veterano explorador do groove - e o grupo de percussão português Drumming GP. Brilhantemente executada, a operática hipnose rítmica conduziu o público em regozijo ao fim da edição.
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Fizeram parte do programa permanente do festival, a peça vencedora do Edigma Semibreve Award em exposição no Theatro Circo - COORDINATED° - das artistas russas Angelina Kozhevnikova (Animaspace) e Arina Kapitanova, e as quatro peças de media art vencedoras do Edigma Semibreve Scholar, em exposição no gnration. No mesmo local, de sexta-feira a domingo, existiu um espaço aberto à experimentação e improvisação com sintetizadores e outros instrumentos destinados à criação de música eletrónica - o "Patch Point Synthesizer Lounge" - fruto da parceria com a loja de instrumentos eletrónicos Patch Point.