Uma mulher em luta contra a "Ordem Moral"

A vida de Maria Adelaide Coelho da Cunha, herdeira do Diário de Notícias (DN), dava um filme. E deu. Realizado por Mário Barroso, Ordem Moral, com Maria de Medeiros como protagonista. Estreia esta quinta-feira (dia 10).

Alta sociedade lisboeta do pós-Grande Guerra 1914-1918. Um casamento de fachada, um marido infiel, que manda no negócio que é dela, da mulher. Uma paixão por um antigo motorista quase trinta anos mais novo.

"A vida dela foi uma aventura extraordinária", começa por afirmar em entrevista à TSF a atriz e protagonista Maria de Medeiros, que recorda o facto de Maria Adelaide, herdeira do Diário de Notícias (DN), que tinha uma vida de mulher de alta sociedade em Lisboa, "muito rica, com tudo à mão", ter abandonado "absolutamente tudo". Em nome do amor que vive no momento, mas não só: "vai muito além disso, é um gesto quase dadaísta, de provocação não só política e social, mas quase estética, de abandonar toda aquela estética burguesa e cortar o cabelo, vivendo absolutamente despojada com um homem muito mais novo do que ela, desfazendo-se de tudo" o resto.

Ainda haverá uma ordem moral semelhante quando se trata de fazer chegar as mulheres aos lugares máximos de decisão e, por conseguinte, de poder? Maria de Medeiros é taxativa: "eu penso que essa ordem moral ainda é vigente, sim. Claro que está um bocadinho mais abalado, porque é formidável a tomada de consciência de gerações de jovens mulheres, mas ainda há muita luta pela frente, sem dúvida".

Na nota de intenções sobre o filme, o realizador afirma que "este projeto surge dum desejo, que ainda não é mais do que uma intenção: a de filmar uma atriz", as suas expressões e olhar, "o rosto, as mãos, a pele de uma atriz. O corpo, sobretudo o corpo duma atriz. É a Maria de Medeiros". Num dos mais extraordinários papéis da sua já longa carreira, que conta, por exemplo, com o prémio de melhor atriz no Festival de Veneza em 1994, pelo desempenho no filme Três Irmãos, da também portuguesa Teresa Villaverde.

Mário Barroso puxa pelos galões de uma carreira com décadas para vincar o que não quis para Ordem Moral: "Sou diretor de fotografia há cerca de 40 anos. Passei a minha vida a filmar e iluminar atores e atrizes, decores, bichos, planos de corte e parvoíces. Sei o que não quero. Tenho pelo telefilme consideração e respeito, considero as "histórias" eficazmente contadas, como prova de um talento raro". Mas ao contar a vida da corajosa mulher herdeira do Diário de Notícias não quis estar condicionado pela própria história, permitindo-se assim chegar "à invenção de imagens, de sons, de sentimentos".

Mais do que a história que se conta através do rosto de Maria de Medeiros, "estará sempre o grão de pele, a luz que a abandona, o desejo que a consome, o corpo que definha, a mão que treme na ternura, o olhar enlouquecido".

No tempo de Maria Adelaide Coelho da Cunha, a rebeldia e a provocação chegaram a custar-lhe o internamento psiquiátrico compulsivo, após conluio do marido com os médicos Egas Moniz, Júlio de Matos, Magalhães Lemos.

Albano Jerónimo, Ana Bustorff, Ana Padrão, Isabel Ruth, João Arrais, Júlia Palha e Rui Morisson fazem também parte do elenco.

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